O Anselmo Borges, que (entre outros) representa, na cultura, a aberração que é o papa Chico, manifesta aqui o desejo de que houvesse uma História sem “vencidos” nem “vencedores”.
É difícil perceber o que o Anselmo Borges pretende dizer; ¿será que ele desejaria que os vencedores da História (a existirem) fossem outros?; por exemplo, ¿aqueles que “perderam” com a queda do muro de Berlim? Ou ¿será que ele pretenderia eliminar, da Realidade, qualquer forma de “vencedores” e de “vencidos”? (eliminando qualquer tipo de “hierarquia histórica”), ¿fazendo da realidade aquilo que ele deseja?, ¿fazendo com que o universo fosse feito à medida dele?
De uma forma ou de outra, parece certo que o Anselmo Borges tem um parafuso desapertado.
Desde logo porque a interpretação hegeliana que ele faz da História — que esteve na moda nas academias durante o século XX e que influenciou até o Salazar, e que é própria dos marxistas — é incompatível com a interpretação católica original, que é uma História cíclica, na sua origem. Para o católico propriamente dito — que não é o Anselmo Borges ou o papa-açorda — a questão de saber se se vence ou se se perde na História, é praticamente irrelevante.
Sobre a concepção histórica de Hegel, que se baseia na dialéctica, Nicolás Gómez Dávila (o grande reaccionário católico que faria o Anselmo Borges vomitar de nojo, Graças a Deus) escreveu:
“A negação dialéctica não existe entre realidades, mas apenas entre definições. A síntese em que a relação se resolve não é um estado real, mas apenas verbal. O propósito do discurso move o processo dialéctico, e a sua arbitrariedade assegura o seu êxito.
Sendo possível, com efeito, definir qualquer coisa como contrária a outra coisa qualquer; sendo também possível abstrair um atributo qualquer de uma coisa para a opôr a outros atributos seus, ou a atributos igualmente abstractos de outra coisa; sendo possível, enfim, contrapôr, no tempo, toda a coisa a si mesma — a dialéctica é o mais engenhoso instrumento para extrair da realidade o esquema que tínhamos previamente escondido nela.”
Este conceito de Nicolás Gómez Dávila mete o Anselmo Borges (e a sua concepção hegeliana da História) numa pia. Como se diz em inglês: Let him sink in!
É certo que houve um desenrolar da História, uma sucessão de factos que fez a História.
Os homens fazem a História que os faz; a História faz os homens que a fazem; os homens fazem a sua história sem a fazer.1
É nesta última proposição (os homens fazem a sua história sem a fazer) que reside a noção de uma influência transcendente na História — não pelo “Destino” de Vico, de Espinosa ou de Fernando Pessoa; não pela “Ideia” de Hegel, porque são ambos conceitos exclusivamente imanentes tão caros ao Anselmo Borges e ao papa-açorda; mas antes pelo conceito newtoniano de “Deus presente no universo e que, sem a Sua presença permanente, mas exógena (alguém que está presente e que condiciona uma determinada realidade, mas não pertence à essência da realidade em que está presente e que condiciona), o universo e a História não poderiam existir”.
Ao contrário do que defende o Anselmo Borges, o papa Chico não tem razão em quase nada. Por exemplo: aplicar a casuística ao sacramento da Eucaristia não lembra ao careca, mas lembra muito bem a Satanás e aos seus acólitos dentro da Igreja Católica .
Nota
1. (Edgar Morin).
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