Quando a Arábia Saudita (por exemplo) proíbe a construção de templos que não sejam os do Islamismo sunita, não está (principalmente) a discriminar as outras religiões, mas está, em primeiro lugar, a defender a sua identidade cultural e nacional que é fortemente marcada pelo Islão sunita. A discriminação objectiva saudita é uma consequência (negativa) do desiderato (positivo) de defesa da identidade de um povo e de uma cultura (por mais críticas que lhe possamos fazer).
O Nuno Melo escreve aqui sobre os ataques terroristas islâmicos na Europa. Mas em nenhum momento se referiu à questão da identidade dos povos da Europa. A questão da identidade está implícita no texto, talvez; mas não se distingue claramente.
Toda a gente (com dois dedos de testa) sabe que o Brexit teve menos razões económicas do que razões identitárias.
O povo inglês chegou à conclusão de que a União Europeia não era uma “associação de comércio livre” (como era proclamado pela classe política mentirosa), mas antes era um projecto totalitário de construção de um leviatão que ia proibindo progressivamente a expressão livre das identidades nacionais europeias. E o conceito de “multiculturalismo” encaixa perfeitamente nesta política de negação progressiva da expressão das identidades nacionais europeias, na medida em que a cultura de cada povo europeu era considerada igual — perante a lei — a qualquer tipo de comunidade cultural exógena e minoritária instalada em qualquer território nacional europeu.
Por outro lado, o Nuno Melo — tal como acontece com a Esquerda ou com Assunção Cristas — passa-nos (grosso modo) a ideia segundo a qual “o terrorismo islâmico é coisa passageira que pode ser combatido pela União Europeia tomando determinadas medidas policiais”.
Ou seja, a classe política em geral, seja em Portugal ou noutro país da Europa (com excepção dos países faxistas como é o caso da faxista Polónia, da faxista Hungria, faxista Eslováquia, e outros países faxistas que deveriam ser expulsos da União Europeia progressista), já entrou em dissonância cognitiva. Esta dissonância cognitiva revela, de facto, o novo “mundo da pós-verdade”, em que se recusa a verificação dos factos, e prefere-se a supremacia da interpretação subjectiva da realidade por parte das elites políticas.
De certa forma, a Europa voltou ao romantismo do século XVIII — incluindo até a (re)-adopção do Positivismo, que é o romantismo da ciência, e que pode ser observado por exemplo no blogue Rerum Natura em que pontifica o cientista Carlos Fiolhais. Só que, no século XVIII, o romantismo esteve na causa da Revolução Francesa e de Napoleão (que garantiu as nacionalidades), e hoje o romantismo é politicamente invertido, na medida em que pretende a reconstrução de um Sacro Império Romano-Germânico mais abrangente, com capital em Berlim.
Para o actual político europeu neo-romântico, o comportamento do indivíduo não depende da psicologia, mas antes depende do padrão de valores (meio-ambiente).
E por isso é que o Nuno Melo, tal como quase todos os políticos europeus, pensa que é possível separar os chamados “muçulmanos radicais”, por um lado, dos “muçulmanos moderados”, por outro lado, mediante uma intervenção no meio-ambiente e no padrão de valores. Mas isso é romantismo puro, porque 1500 anos de História já nos revelaram que o Islão é incompatível (não é possível uma coexistência sem o pagamento humilhante da Jizya) com qualquer outro tipo de cultura — porque o Islamismo é um princípio de uma ordem política totalitária (e fatalista); e porque a cultura da Europa cristã baseia-se no princípio do livre-arbítrio individual (a liberdade do indivíduo), desde Santo Agostinho a S. Tomás de Aquino, e de Leibniz a Kant.
Enquanto os maomedanos são uma pequena minoria em um país — como é o caso de Portugal onde existem apenas cerca de 50 mil maomerdanos —, a coexistência com a cultura dominante é possível. Mas quando a percentagem de maomedanos ultrapassa um determinada valor em relação ao total da população, surge um fenómeno cultural e social a que chamamos de “singularidade islâmica” que torna impossível a paz social na sociedade.
Em suma: qualquer político lúcido sabe o que há a fazer na Europa: há que colocar os direitos humanos entre parêntesis, e agir. Por isso é que quase ninguém — incluindo os intelectuais conservadores, como por exemplo Roger Scruton — gosta de Donald Trump.
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