sábado, 26 de agosto de 2017

João César das Neves e a direitinha globalista

 

O João César das Neves tem desiludido bastante; desde logo quando defendeu a tese segundo a qual o Jorge Bergoglio não é marxista: os factos recentes vieram demonstrar o contrário.

A ideia segundo a qual um marxista define-se apenas pela sua visão económica, é uma ideia estúpida: Gramsci e a Escola de Frankfurt defenderam outra tese, a de que o sucesso do marxismo económico depende, em primeiro lugar, da cultura antropológica — e só nos faltava agora que o João César das Neves nos viesse dizer que Gramsci ou Marcuse não eram marxistas!

É evidente que o Bergoglio é marxista. E é evidente que João César das Neves faz parte de uma certa “direitinha” que nunca questiona a autoridade de direito de quem a não tem, de facto.

A doutrina social da Igreja Católica está expressa, por exemplo, na Carta Encíclica “Rerum Novarum” do Papa Leão XIII que, acerca do socialismo marxista, diz o seguinte no seu ponto 3:

“Os Socialistas, para curar este mal [o mal da indigência], instigam nos pobres o ódio invejoso contra os que possuem, e pretendem que toda a propriedade de bens particulares deve ser suprimida, que os bens dum indivíduo qualquer devem ser comuns a todos, e que a sua administração deve voltar para - os Municípios ou para o Estado. Mediante esta transladação das propriedades e esta igual repartição das riquezas e das comodidades que elas proporcionam entre os cidadãos, lisonjeiam-se de aplicar um remédio eficaz aos males presentes. Mas semelhante teoria, longe de ser capaz de pôr termo ao conflito, prejudicaria o operário se fosse posta em prática. Pelo contrário, é sumamente injusta, por violar os direitos legítimos dos proprietários, viciar as funções do Estado e tender para a subversão completa do edifício social”.

Ora, o papa-açorda Bergoglio está ideologicamente nos antípodas do papa Leão XIII. Por exemplo, quando o Chico defende a ideia segundo a qual “a imigração livre é um valor que está acima da segurança dos cidadãos europeus” — esta é nitidamente uma tese marxista cultural: o Daniel Oliveira ou a Catarina Martins apoiariam esta ideia do papa-açorda.

Através da destruição da cultura antropológica, os neomarxistas pensam que poderão impôr posteriormente uma sociedade igualitarista: basta olhar para o que escrevem o Anselmo Borges e o Frei Bento Domingues, apoiantes incondicionais do papa Chico, para verificar que o João César das Neves está enganado.


O João César das Neves escrevinhou outra merda (literalmente) no Diário de Notícias: diz ele (parafraseando um cientista) que "Génio é 1% inspiração e 99% transpiração”. E que Donald Trump não “transpira”.

Ora, esta frase aplica-se na ciência, nas artes; mas nem sempre está correcta — até porque o conceito de “génio” aplica-se apenas, e com propriedade, nas artes; quando dizemos que um cientista “é um génio”, fazemo-lo por analogia. E dentro da genialidade de um artista temos, por exemplo, Mozart que foi um génio com 99% de inspiração, ou Beethoven que foi um génio com 99% de transpiração: o que para Mozart era fácil, foi muito mais difícil a Beethoven.


Eu tenho acompanhado muito de perto política americana nos últimos seis meses. Mais uma vez, o João César das Neves está enganado: qualquer político eficiente (tal como acontece com um gestor eficiente) deve delegar, e depois controlar. Ou seja, não há razão nenhuma para que Donald Trump deva “transpirar” mais do que um qualquer político sob a sua alçada.

O que se tem passado é o controlo Neocon da presidência.

Donald Trump tem vindo a ser paulatinamente “recuperado” pelo sistema Neocon (que já abrange também alguns membros proeminentes do Partido Democrático). O recente afastamento de Steve Bannon da Casa Branca significa a vitória do complexo industrial-militar sobre Donald Trump. Isto nada tem a ver com “transpiração” ou com “inspiração”: tem antes a ver com a realidade de um poder fáctico que tem impedido que Donald Trump governe. E, por isso, Donald Trump tem cedido em toda a linha, e já vem sacrificando as suas promessas eleitorais em beneficio dos globalistas e dos defensores das guerras sistémicas.

Talvez quando Donald Trump imitar Obama e começar a fazer guerras em todo o lado do Globo, o João César das Neves lhe venha a tecer loas. A direitinha globalista é assim.

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