Para que não digam que “estou sempre no contra”, desta feita estou de acordo com este verbete que critica o individualismo.
Mas a crítica é feita ao “fanatismo da independência individual”, e por isso é que eu estou de acordo com ela — porque o “individualismo” enquanto concepção segundo a qual o indivíduo constitui uma realidade primeira, essencial e fundadora de qualquer valor, é uma das premissas do Cristianismo (o “princípio de individuação”).
Hoje é preciso ter muito cuidado quando abordamos um qualquer conceito, porque uma má interpretação pode gerar mais confusão do que esclarecimento.
Para Jesus Cristo, o indivíduo é a base soteriológica; ao contrário do que dizem certos intelectualóides de urinol da Esquerda, Jesus Cristo foi tudo menos comunista, porque baseou a sua mensagem de salvação espiritual, no indivíduo. Para Jesus Cristo, o indivíduo é mais importante do que o colectivo, embora o colectivo também seja importante. Há parábolas de Jesus Cristo que fazem sobressair a importância do indivíduo face ao colectivo.
Portanto, um colectivista não pode ser cristão. Ser cristão e colocar o colectivo acima do indivíduo é uma contradição em termos. Mas ser cristão não significa ser “fanático da independência individual”.
O problema do “fanatismo da independência individual” começou, em primeiro lugar, com a radicalização política da concepção de Razão de Estado, e na sequência desta, o Absolutismo Monárquico da Idade Moderna que acabou por destruir a monarquia em muitos países da Europa.
Na Idade Média, por exemplo, o indivíduo existia independentemente do colectivo, embora agregado em guildas ou associações. E a nobreza constituía um escol — um escol não é uma classe, mas antes é uma colecção de indivíduos. Pelo menos em Portugal, nunca na Idade Média os indivíduos tiveram que abdicar da afirmação da sua identidade individual para se sujeitarem e anularem em relação ao colectivo — como aconteceu no século XX com o nazismo ou com o comunismo.
O problema do “fanatismo da independência individual” começou com a radicalização do conceito de Razão de Estado, com o Absolutismo Monárquico e com o Romantismo. Todo este problema se desenvolveu entre meados de 1600 e meados de 1800.
Muita gente critica os iluministas continentais europeus (porque não existiu Iluminismo propriamente dito no Reino Unido), e principalmente Kant, pela criação do problema do “fanatismo da independência individual”. Mas trata-se de um erro.
O princípio da autonomia de Kant não defendeu um “fanatismo da independência individual”. O princípio da autonomia, segundo Kant, caracteriza-se por 1/ como liberdade no sentido negativo, isto é, como independência em relação a qualquer coacção exterior (o cidadão), 2/ mas também no sentido positivo, como legislação da própria Razão pura prática (o legislador). Ou seja, segundo Kant, o indivíduo autónomo ou independente é chamado a assumir as suas responsabilidades sociais e colectivas, aliás, na linha da tradição cristã.
Porém, não devemos opôr o Estatismo ao individualismo (enquanto “fanatismo da independência individual”) : trata-se de uma falsa dicotomia.
Há determinadas forças políticas — por exemplo, o Partido Comunista, o Bloco de Esquerda ou o PNR (Partido Nacional Renovador) — que criticam o individualismo para assim poderem defender a legitimidade de uma qualquer forma de Estatismo (defendem um Estado plenipotenciário e um Absolutismo político).
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