Eu já aqui referi, várias vezes, que o José Pacheco Pereira é um indivíduo muito perigoso, nomeadamente porque, amiúde, junta “alhos com bugalhos” (através de logomaquias ou de argumentação contraditória entre si) para fazer a crítica niilista da sociedade — na esteira, aliás, da Teoria Crítica. O problema é que ninguém (nos me®dia) se atreve a contradizê-lo; o Pacheco não tem contraditório; opera em roda livre.
«Bombardeamentos? Ocorrem em vários sítios.
“Se estes refugiados ucranianos, que são brancos, fossem negros ou muçulmanos, nada do que está a acontecer acontecia. Bombardeamentos de cidades ocorreram no Iémene, ocorreram na Líbia, ocorreram no Sudão, ocorreram... aa... aa... na... no sul do Sudão, no Darfur. Ocorreram em vários sítios... na Faixa de Gaza. Há bombardeamentos sobre cidades e há, em muitos casos, centenas de refugiados, só que têm a cor errada.”»
Desde logo, existe (no referido trecho) uma recusa (gnóstica) da Natureza Humana — porque, normalmente, tendemos a proteger mais aqueles que nos são mais próximos; por exemplo, eu preocupo-me mais com a minha família do que com a família do vizinho: é uma característica da Natureza Humana.
O José Pacheco Pereira recusa e despreza a Natureza Humana, em nome da suas próprias virtudes que ele considera serem superiores às do comum dos mortais. O José Pacheco Pereira considera-se um Übermensch; ele está acima da condição humana. É uma espécie de profeta com qualidades sobrenaturais — um Pneumático moderno — que anuncia ao mundo a necessidade premente de um paraíso na Terra.
Vamos a factos: apenas a Alemanha, em 2015, recebeu mais de 1 milhão de refugiados sírios, na esmagadora maioria muçulmanos e “castanhos”; e vem aquele animal dizer que se os refugiados “fossem negros ou muçulmanos, nada do que está a acontecer acontecia”. Aquele estafermo é de uma filha-da-putice à prova de bala!
O José Pacheco Pereira não olha a meios para fazer a crítica dissolvente dos valores do Ocidente, de tradição cristã.
O Pacheco faz lembrar Antístenes, o cínico — o precursor do nominalismo.
O símbolo do bastão com que Antístenes enxotava os seus discípulos representa não só uma realeza interior (pretensa, auto-assumida e subjectiva), em que o bastão simboliza o ceptro, mas também a severidade com que são tratados, à maneira de um bom médico (ou de um grande profeta), aqueles que pretendem tornar-se “sábios” como ele. Também a imagem do “cão”, explorada por Diógenes (outro “cínico”), tal como no Pacheco, simboliza a rosnadela e a mordacidade daquele que se julga superior à Natureza Humana e, por isso, desconfia de tudo e de todos.
O Pacheco é uma amostra pós-moderna de uma mistura anacrónica de Antístenes e Diógenes.
Tal como estes dois, o Pacheco critica a própria existência da opinião (doxa) entendida em si mesma, em nome da prevalência da sua própria opinião sobre a opinião dos outros. É também isto que faz dele uma figura perigosa — alegadamente porque (dizem os cínicos) a doxa detém um duplo sentido: em primeiro lugar, a doxa resulta de um conjunto de preconceitos (ou seja, costumes e convenções, que são próprios da Natureza Humana, que o Pacheco despreza) que, alegadamente, a sociedade impõe de forma artificial; depois, a doxa (a dos outros) traduz o vão desejo da glória (mas este critério já não se aplica à opinião do cínico Pacheco).
O “sábio” Pacheco (tal como Antístenes e Diógenes) recusa a lei da cidade (a lei que é baseada nos costumes, na tradição, na moral), no sentido em que ele (o Pacheco) representa a própria lei perante si mesmo (autarcia).
É certo que o cínico (Pacheco) não é misantropo, não vive como um eremita. Pelo contrário, pretende conviver com os outros no sentido de “desassossegar” a sociedade, entrando em paroxismos sistemáticos: por exemplo, ao proclamar, pela provocação, a sua independência de espírito (a sua superioridade intelectual), o cínico (Pacheco) vai ao encontro da sua intenção provocadora; ao menosprezar as opiniões dos outros, ele sobrevive (politicamente) sempre e apenas no próprio escândalo que provoca.
A forma de ser do cínico (a do Pacheco) tende a converter-se em um conjunto de gestos ostentatórios: trata-se de uma apologia da superioridade das virtudes próprias.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Neste blogue não são permitidos comentários anónimos.