Um indivíduo que não só concorda as ideia de Richard Dawkins, mas também corrobora quase todas as teses deste último, não pode ser propriamente um “filósofo” — porque as ideias de Richard Dawkins não são minimamente consistentes/coerentes, nem do ponto de vista filosófico/lógico, nem sequer do ponto de vista científico. Por isso, Daniel Dennett, ao concordar e corroborar as teses de Richard Dawkins, não é um filósofo propriamente dito.
Porém, em favor de Daniel Dennett, é utilizado amiúde o argumento do “curso de filosofia” dele; mas, em bom rigor, quanto maior for a importância de uma actividade intelectual, mais ridícula é a pretensão de avalizar a competência de quem a exerce; ou seja: um diploma de “dentista” (ou de “mecânico”), é aceitável; um diploma de “filósofo” é grotesco.
Portanto, o argumento do “cursinho de filosofia” de Daniel Dennett não serve.
Neste texto, a professora Helena Serrão retoma o velho tema naturalista da “humanização” de um computador:
“Turing mostra que se um computador pode somar, subtrair, multiplicar e dividir, e se pode dizer a diferença entre zero e um, ele pode fazer qualquer coisa. Pode-se pegar num conjunto de habilidades irracionais e transformá-las em estruturas de poder discriminativo indefinido, poder de discernimento indefinido e poder reflexivo indefinido. Pode-se fazer uma mente inteira; assim pode-se resolver o problema de Hume; pode-se ter ideias para pensar por si mesmas nesta estreita base.”
Um “filósofo” que escreve isto esqueceu-se de duas coisas importantes: 1/ o teorema de Gödel; 2/ o conceito de “X”, de Kant.
X de Kant
Immanuel Kant chamou à atenção para o facto de nós termos sempre de acrescentar um suplemento a todos os nossos pensamentos, independentemente daquilo que estamos a pensar: a frase “eu penso”.
Sem a consciência de que “sou eu que penso”, não existe qualquer pensamento que mereça esse nome. Sem a autoconsciência de que a consciência se pensa a si mesma, não é possível qualquer conteúdo dessa consciência.
O computador de Daniel Dennett pode percorrer o seu programa sem este “eu penso”, mas não pode, por isso, pensar como um ser humano.
No “eu penso” do sujeito humano, todos os conteúdos da consciência estão ligados; o “eu penso” do humano é a condição lógica de qualquer pensamento — constitui o último ponto de referência lógico e o ponto de unidade de todo o conhecimento.
Utilizando o tipo de linguagem de Kant: o “eu penso” é a condição da possibilidade do pensamento. Este “eu penso”, segundo Kant, é o “X” da condição humana.
Não é possível reconhecer este X porque qualquer acto de pensamento o pressupõe: o X é anterior ao próprio pensamento — e por isso é que nenhum computador tem ou alguma vez terá este X. A comparação que os naturalistas fazem entre um computador, por um lado, e um ser humano, por outro lado, é uma estupidez de uma grandeza elevada à potência infinita.
O teorema de Gödel
Segundo teorema de Gödel, é impossível demonstrar a não-contradição de um sistema (bastante rico e/ou complexo) pelos seus próprios meios, ou mediante meios mais fracos.
Por exemplo, um computador suficientemente complexo para simular o trabalho cerebral, e submetido a um rigoroso determinismo no que respeita ao seu mecanismo e às permutas com o exterior, não permite calcular, em um tempo t, o que ele (computador) será num tempo t+1 — só o consegue na medida em que a sua determinação, por si só incompleta, estiver submetida à determinação de um outro computador de ordem superior, mas que, nesse caso, também não está de modo nenhum inteiramente determinado por si mesmo; e assim consecutivamente, ad infinitum.
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