quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Os jornaleiros especializados em Marxismo-Leninismo


Eu não sou jornalista, e por isso, posso dar-me ao luxo de ser incautamente impreciso na escrita da Língua Portuguesa; mas um jornalista — propriamente dito — não se pode dar a esse luxo.


“A gravidade não é o que foi dito, que corresponde a uma verdade formal, apesar da afirmação de que não se abdica de direitos ser inconsequente. É o ministro da Defesa meter foice na seara do MNE e dizer que o fez como líder do CDS, com homens fardados atrás. A culpa é de quem deu um ministério relevante ao líder de um partido defunto. Os mortos às vezes falam. Mas a cabeça já não é o que era”

(Daniel Oliveira)

Daniel Oliveira é (alegadamente) jornalista, e teria a obrigação de conhecer os conceitos de “linguagem-objecto” e de “metalinguagem”, do linguista, matemático e filósofo Alfred Tarski, que deveria ser objecto de estudo nas faculdades de jornalismo. Porém, o Daniel Oliveira preferiu especializar-se em Marxismo e em Materialismo Dialéctico (ou “materialismo científico” que, de científico, tem nada).


Vou escrever, em baixo, o texto do Daniel Oliveira com algumas correcções , como segue:

“A gravidade não é o que foi dito, que corresponde a uma verdade formal, apesar da afirmação de que “não se abdica de direitos” ser inconsequente. É o ministro da Defesa meter foice na seara do M.N.E., e dizer que o fez como líder do C.D.S., com homens fardados atrás. A culpa é de quem deu um ministério relevante ao líder de um partido defunto. Os mortos, às vezes, falam; mas a cabeça já não é o que era.”

O trecho “não se abdica de direitos” está aqui entre aspas porque, neste caso, pertence à linguagem-objecto, ou seja, pertence à linguagem que se fala comummente: “não se abdica de direitos”, entre aspas, pode ser considerado como um nome, porque o objecto de que se fala é sempre representado por um nome, ou, mutatis mutandis, pretende ser uma  citação ou pseudo-citação do discurso de alguém.

Ademais, o Daniel Oliveira, como “progressista” que se preza, despreza a pontuação.

“Os mortos, às vezes, falam”, deve ter vírgulas que isolem o “às vezes” no discurso falado e escrito; e o trecho “mas a cabeça já não é o que era” deve seguir-se a um ponto e vírgula, porque a conjunção adversativa “mas” não se coaduna (na tradição da escrita portuguesa) com um ponto final anterior. Se o Daniel Oliveira quisesse utilizar o ponto final, deveria ter utilizado as conjunções “porém” ou “contudo”, em lugar de “mas”.

No resto, estou de acordo com o Daniel Oliveira (“partido defunto” incluído).

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