sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Ou a política europeia muda, ou a zona Euro vai arrebentar

 

“O défice da balança comercial portuguesa (exportações menos importações) aumentou no primeiro semestre para 953 milhões de euros, o que representa um agravamento de 759% face aos 111 milhões de euros registados nos primeiros seis meses de 2013.”

Défice comercial português aumentou para 953 milhões de euros no primeiro semestre

¿Será possível Portugal tentar equilibrar a sua balança comercial? Jamais!

Dentro da zona Euro será praticamente impossível a Portugal tentar equilibrar a sua balança comercial, porque países europeus  exportadores como a Alemanha vivem — não só, mas também — dos défices comerciais dos pequenos países da União Europeia. A lógica alemã é a de criar défices comerciais nos países pequenos da zona Euro, por um lado, e por outro lado, esses défices acumulados servem vários propósitos: 1/ subordinação política; 2/ endividamento sucessivo e em crescendo em relação à Banca dos países do directório da União Europeia; 3/ exportação do desemprego alemão para os países da periferia europeia.

O problema é o de que a actual política da zona Euro, comandada pela Alemanha, vai “arrebentar”. As únicas economias da União Europeia que cresceram em 2014 foram a irlandesa (2,5%) e a britânica, mas o Reino Unido está fora do Euro.

A economia alemã encolheu 0,2% no último trimestre. Porquê? Uma das razões é a de que os países da zona Euro, endividados até às orelhas, não estão a importar produtos alemães em quantidade suficiente para assegurar o crescimento — ou pelo menos a manutenção do desempenho — da economia alemã. A Espanha e a Grécia continuam a ter um nível altíssimo de desemprego (25%) só comparável com os Estados Unidos na Grande Depressão dos anos 30 do século passado. Quinze dos 28 membros da União Europeia têm uma taxa de desemprego superior a 10% (incluindo a França).

Na zona Euro, há um “livre mercado” que é made in Germany.

O emprego alemão tem sido sustentado pelas exportações, nomeadamente as exportações para os países europeus que estão hoje sobrecarregados com dívida e, por isso, já não podem comprar na Alemanha aquilo que compravam há seis anos. As exportações alemãs para a zona Euro atingiram um ponto de saturação.

As taxas de juro de empréstimos dos Bancos atingem valores inéditos desde o aparecimento do Euro. Quatro países da União Europeia têm taxas de juros de empréstimos bancários superiores a 20%; seis países têm taxas de juro entre 10 e 20%, incluindo a Itália (15,1%). A taxa de juro média da União Europeia é de 7,3%. A Espanha tem uma taxa de juro de referência de 8,2%. Portugal tem uma taxa de juro de 11%.

Com taxas de juro de empréstimos bancários deste calibre, ¿como é possível às economias periféricas da zona Euro “arrancar” para um crescimento sustentado? Impossível! E a dívida pública portuguesa continua a crescer: por um lado, a dívida cresce; e por outro lado a economia portuguesa não pode “arrancar” com taxas de juro tão altas.

A política monetária do BCE [Banco Central Europeu] — controlada pela Alemanha — tem sido a de fortalecer os rácios da Banca à custa de um crescimento do desemprego nunca visto nos países da União Europeia deste que o Euro foi criado. Os Bancos primeiro; a economia depois.

O alto desemprego significa menos consumo e aumento endémico da dívida dos países da zona Euro (com excepção da Alemanha). Menos consumo destes países significa menos exportações alemãs. Por outro lado, maior desemprego é sinónimo de maior número de “imparidades” bancárias, porque as pessoas desempregadas já não podem cumprir com o serviço das suas dívidas. Com o aumento de imparidades bancárias, a política monetária do BCE (de fortalecimento dos rácios da Banca) vai falhando.

Ou seja, encontramo-nos em uma situação de “pescadinha de rabo na boca”: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Ou a política europeia muda, ou a zona Euro vai arrebentar.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Neste blogue não são permitidos comentários anónimos.