segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Carlos Fiolhais e a crença nos gambozinos

 

Não li este livro nem vou ler. A julgar pelo prólogo, é mais daqueles livros de auto-ajuda que encontramos em trânsito entre aeroportos. E é sobre o prólogo que vou falar.

Em primeiro lugar, o conceito de “crescimento da complexidade”.

Este conceito existe hoje no seguimento da ideologia de Herbert Spencer — também adoptada por Richard Dawkins — que entende a “evolução” como uma diferenciação funcional individuante que obedece a uma intenção utilitarista que leva a subordinar o Todo à satisfação das partes. Richard Dawkins, (ainda) mais burro do que Spencer, coloca o problema em termos da “simplicidade de Deus”, por um lado, e a “complexidade da matéria”, por outro lado, tentando demonstrar por esta via que “o mais simples não pode estar na origem do mais complexo” — como se, matematicamente, a unidade fosse mais simples do que o múltiplo...!

Em segundo lugar, a proposição: “a evolução biológica do homem, por vezes motivada pelo acaso”.

Ou seja, “selecção natural por intermédio de variações aleatórias”. Ora, isto é tanto uma crença como é a crença dos gambozinos. É uma espécie de religião imanente que se transformou recentemente em religião política. Como não podemos explicar o “aparecimento” do ser humano, adoptamos uma crença: a de que “o homem evoluiu através da selecção natural e por intermédio de variações genéticas aleatórias”. E esta crença tornou-se em um mito moderno — o que revela que o homem moderno é um selvagem actual.

Resta-nos, então, a tal “ética do despertar verde” (por fora, porque por dentro é vermelho).

É uma ética apocalíptica: “procuremos a salvação porque, de contrário, vem aí o fim do mundo!”. Joaquim de Fiore, no século XII, adoptou a mesma estratégia “ética”. Em filosofia, chamamos a isto de “Milenarismo”, que foi uma das características da ética dos primeiros cristãos, que a patrística cristã e Santo Agostinho combateram — mas o Milenarismo não morreu: de vez em quando ressurge o Milenarismo anunciando o fim da História. Joaquim de Fiore foi um exemplo do anúncio do fim da História, mas o protestantismo, e principalmente o Calvinismo, também anunciaram o fim da História. E Karl Marx também anunciou o fim da História; e, em 1991, o neoliberal Francis Fukuyama também anunciou o fim da História.

Com a queda do comunismo, os marxistas reorganizaram-se ideologicamente e tornaram-se agora em uma espécie de melancias: verdes por fora e vermelhos por dentro. A primeira vez que ouvi falar em “aquecimento global” e no “El Niño” foi em 1997, na universidade de Coimbra e em uma conversa informal com uma professora universitária coimbrinha. Fiquei espantado com a “cumbersa”! Só alguns anos mais tarde os me®dia começaram a falar no assunto. Mas, desde a queda do muro, os coimbrinhas da universidade — influenciados pela esquerda universitária e darwinista americana — já estavam a tratar de substituir o materialismo dialéctico pelo naturalismo dialéctico.

Hoje temos um materialismo dialéctico mais sofisticado: o naturalismo dialéctico, que, alegadamente, se baseia na “ciência darwinista” e que transforma a ciência em política. Karl Popper demonstrou que o materialismo dialéctico não é ciência; e, vai daí, surge o naturalismo dialéctico que pretende passar o teste da falsificabilidade, propagando um mito.

Há duas espécies de “ecologia”: a que foi defendida por Hans Jonas, e que chama a nossa atenção para o problema da poluição do ambiente; e a outra espécie de ecologia que é aquela que apela para o arrependimento dos nossos pecados, para nossa salvação porque o fim do mundo está iminente por causa do “aquecimento global”. A primeira é uma ecologia real e que depende objectivamente do homem; a segunda faz parte de uma religião imanente e naturalista que pretende substituir as religiões propriamente ditas.

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