segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Frei Bento Domingues, ceguinho que não quer ver

 

Frei Bento Domingues não é invisual: é ceguinho, mesmo. E o pior cego é aquele que não quer ver.

“O acolhimento ao Papa Francisco não resulta apenas, nem sobretudo, de qualquer estratégia publicitária. Nele, as pessoas vêem uma das expressões mais genuínas da atitude de Jesus Cristo, no meio do seu povo.”

Um Papa anticlerical?


1/ O que é surpreendente, em Frei Bento Domingues, é a tentativa de desconstrução presentista da História. Normalmente, o desconstrucionismo histórico leva alguns anos, distanciando-se dos factos ou não-factos históricos. Mas Frei Bento Domingues desconstrói a História de ontem, de há um mês ou de há seis meses. A lógica de Frei Bento Domingues é a mesma de Pimenta Machado, o conhecido dirigente de futebol: dizia ele que “o que é verdade hoje já não é amanhã”. É nisto que consiste a desconstrução histórica presentista: basta um dia para se negar o que se passou ontem.

Das duas, uma: ou o Frei Bento Domingues está a brincar connosco (é um pândego!) , ou está a está a tentar imitar o Groucho Marx, dizendo-nos:

“¿Acreditas no que os teus olhos mentirosos vêem, ou naquilo que eu te digo?!!!”


“O divórcio entre as Igrejas e o mundo moderno não foi provocado, apenas, pela má vontade dos incréus e dos anticlericais. O anticlericalismo foi, muitas vezes, o reverso do clericalismo. Nasci numa zona do país em que não se podia viver sem padre, desde o baptismo ao funeral. Passava-se o tempo a dizer mal deles por causa do seu autoritarismo e da arbitrariedade ameaçadora dos seus comportamentos pouco pastorais. Não eram especialmente maus, mas apenas o resultado da formatação recebida.”

O Frei Bento Domingues, como convém a qualquer ideólogo politicamente correcto, refere-se a conceitos vagos mas não os define — porque ao politicamente correcto não convém definir nada: o politicamente correcto vive a alimenta-se da indefinição.
¿O que significa “clericalismo”? Vamos ao dicionário:

Clericalismo: opinião dos que apoiam a influência do clero na sociedade.

Segue-se que, logicamente, que o anticlericalismo é a opinião dos que não defendem qualquer influência do clero na sociedade.
E ¿o que significa “autoritarismo”?

Autoritarismo: sistema autoritário, despotismo, sendo que “autoritário” significa poder de mandar, pessoa que exerce o poder, mando, poder público, pessoa ou texto que se invoca em favor de qualquer opinião.

O autoritarismo não é a mesma coisa que autoridade: o Frei Bento Domingues mete estas duas noções “no mesmo saco”.

Dizer que os padres padeciam de autoritarismo e da arbitrariedade ameaçadora, para além de ser uma falácia lógica da generalização, é uma falácia do espantalho porque desvia a atenção do leitor da verdadeira causa do divórcio entre a religião (e não as “igrejas”, como ele diz) e o mundo moderno. Quando Frei Bento Domingues substituiu a palavra “religião” ou “religiões”, pela palavra “igrejas”, fá-lo com uma certa intencionalidade que não é intelectualmente honesta. As igrejas não existem sem a religião.

«Hoje já não se repetem estas palavras de Pio X, mas elas modelaram gerações: “só na hierarquia reside o direito e a autoridade necessários para promover e dirigir todos os membros para os fins da sociedade. Em relação ao povo, este não tem outro direito a não ser o de se deixar conduzir e seguir docilmente os seus pastores”.»

Aqui dou razão a Frei Bento Domingues: hoje já não se repetem essas palavras de Pio X, mas não só na Igreja Católica: também não se repetem essas palavras a qualquer nível da sociedade. Hoje, a autoridade fez um pacto com o povo: o povo diz mal da autoridade, e a autoridade faz aquilo que lhe dá na real gana e sem qualquer critério racional e lógico. Mas, para o Frei Bento Domingues, estamos hoje melhor do que no tempo de Pio X. O problema idiossincrático de Frei Bento Domingues não parece ser em relação ao autoritarismo, mas antes em relação à autoridade.

«A Civiltà Cattolica, na época da definição da infalibilidade do papa, escrevia: “a infalibilidade do papa é a infalibilidade do próprio Jesus Cristo […]. Quando o papa pensa, é o próprio Deus que pensa nele”

O Frei Bento Domingues é desonesto, porque escamoteia o contexto histórico em que isso foi escrito — quando o papado estava a ser alvo de uma guerra sem quartel por parte da maçonaria internacional. O Frei Bento Domingues gosta de enganar o povo; e de dizer que ele é infalível nas suas apreciações imprecisas, ao passo que o Papa não é.

2/ O Frei Bento Domingues coloca a práxis acima da doutrina, a acção política acima da fé.

3/ O Frei Bento Domingues tenta dizer que o cardeal Bergoglio não é autoritarista: os outros, os papas anteriores, é que eram autoritaristas.

O cardeal Bergoglio apenas “neutraliza as forças de obstrução”, o que, segundo o Frei Bento Domingues, não é autoritarismo. Por exemplo, segundo o Frei Bento Domingues, a atitude do cardeal Bergoglio em relação aos Franciscanos da Imaculada não é autoritarismo: em vez disso, é apenas “neutralização das forças de obstrução” — assim como aborto não é aborto: para o Frei Bento Domingues, parece que aborto é IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez), e talvez por isso é que o cardeal Bergoglio disse que “os católicos andam obcecados com o aborto” (porque o aborto não existe!, da mesma forma que não existe qualquer autoritarismo da parte do cardeal Bergoglio!).

Temos, pois, um cardeal “feito papa” que é clericalista embora seja contra o clericalismo. Ele não pretende acabar com o clericalismo: quer apenas que o clericalismo corresponda a uma certa imagem politicamente correcta, por um lado, e, por outro lado, que o conceito de “clericalismo” seja subjectivamente redefinido por ele enquanto plenipotenciário da Igreja Católica.

Depois, o Frei Bento Domingues, citando o cardeal Bergoglio, fala em “realidade”:

“Nesse Encontro, a convicção mais abrangente é esta: as grandes mudanças da história acontecem quando a realidade é vista, não a partir do centro, mas da periferia. Trata-se, para o Papa, de uma questão hermenêutica: a realidade não se compreende a partir de um centro equidistante de tudo.”

Ora, eu não sei definir “realidade”, mas o Frei Bento Domingues e o cardeal Bergoglio sabem. Eu confesso a minha ignorância perante a impossibilidade de definir “realidade”. Em relação ao conceito de “realidade”, Nicolás Gómez Dávila escreveu o seguinte: “Deixemos a síntese da realidade a cargo de Deus”. Mas parece que Nicolás Gómez Dávila era outro burro como eu, ao passo que o Frei Bento Domingues e o cardeal Bergoglio têm alvarás de inteligência.

A ideia peregrina do Frei Bento Domingues, segundo a qual, a necessidade de “se mover da posição central da tranquilidade, da zona de conforto, para as zonas agitadas das periferias”, é uma novidade bergogliana que nunca existiu na Igreja Católica, é própria de um lunático. João Paulo II não falou noutra coisa senão nesse assunto! Branquear a história recente da Igreja Católica é um insulto que o Frei Bento Domingues nos faz!

O problema do Frei Bento Domingues é outro: é político. E a ideia de Frei Bento Domingues segundo a qual as mulheres são sempre esquecidas pela Igreja Católica, é própria de má-fé, porque só alguém com má-fé não sabe a importância da mulher, simbolizada em Maria mãe de Jesus, para a Igreja Católica — para não falar na longa lista de mulheres no Santuário da Igreja Católica.


Ficheiro PDF do texto do frade.

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