Por vezes, confunde-se “Absolutismo”, por um lado, como “monarquia orgânica”, por outro lado; mas quando essa confusão vem do blogue Combustões (via), é desonestidade. A monarquia orgânica existe na Europa pelo menos desde a baixa Idade Média, ao passo que o Absolutismo evoluiu dos teóricos da Razão de Estado a partir do século XVI — se bem que o Absolutismo propriamente dito existiu em França: o que aconteceu na Prússia, em Espanha ou em Portugal, por exemplo, foram cópias do Absolutismo francês.
Por outro lado, há uma coincidência entre o Absolutismo, por um lado, e o Iluminismo, por outro lado — o que faz com que, no Absolutismo, a monarquia orgânica já estivesse degradada: não é possível conciliar o Iluminismo e a monarquia orgânica que se baseava em uma cultura e civilização cristãs. Dizer que “durante o Absolutismo existia uma monarquia orgânica” é pretender conciliar o inconciliável.
Eu não quero dizer que o que veio depois do Absolutismo foi melhor; apenas quero dizer que o Absolutismo e o Liberalismo são vergônteas da mesma cepa: o Iluminismo. E afirmar que “o Iluminismo é compatível com uma monarquia orgânica” é um absurdo: penso que nem vale a pena perder tempo com escritos sobre este assunto.
A narrativa que o blogue Combustões atribui ao Absolutismo deve ser atribuída ao período anterior ao Absolutismo que em Portugal teve o seu início em finais do século XVII, quando deixou de fazer parte da tradição política a convocação das Cortes. O Absolutismo aboliu as Cortes em Portugal!, e é inexplicável como alguém possa tentar identificar a monarquia orgânica com o Absolutismo! Só com má-fé essa identificação é possível. As Cortes foram uma componente essencial da monarquia orgânica...!
Existe uma certa Direita que escreve muita merda, à laia da Esquerda radical: desconstrói a História e constrói narrativas que deturpam os factos históricos.
 
