O João Miranda concebe a sua subjectividade como um facto objectivo e científico; e depois diz que “a objectividade dos outros é subjectiva”.
Vamos ver o que conseguimos “tirar” deste texto do João Miranda — porque o discurso dele é sinuoso, uma espécie de lengalenga que mistura propositadamente alhos com bugalhos no sentido de parecer original.
Talvez por que o João Miranda não se importaria de ver gajas nuas a andar na rua, também não vê problema em ver gajas tapadas com Burka. Para ele, uma gaja nua na rua é “expressão de liberdade”. Não lhe passa pela cabeça que uma gaja nua na rua seja oprimida: pelo contrário, ela anda nua na rua porque é livre! A liberdade, segundo o João Miranda, tem destas coisas: tanto pode dar para se andar nua como com Burka.
Ou, se interpretarmos o texto do João Miranda de outra maneira: a mulher muçulmana que usa Burka, sendo oprimida, fica entregue à sua sorte no seu ambiente privado e familiar, para gáudio da maioria da população que “fica satisfeita com ela própria” por não ver mulheres com Burka na rua. As mulheres que usam Burka — segundo o João Miranda — “são empurradas para um gueto”.
Nesta segunda interpretação — e em contraposição à primeira que se baseia na “liberdade” — é falta de liberdade (opressão) da mulher que é colocada em equação. Com os textos do João Miranda temos sempre que analisar a “coisa” e o seu contrário.
Se seguirmos o raciocínio do João Miranda, e se o levarmos até às últimas consequências, a proibição da excisão feminina conduz as mulheres muçulmanas para um gueto — para gáudio da maioria da população que “fica satisfeita com ela própria” por saber que não existem mulheres com o clitóris amputado.
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