quinta-feira, 3 de julho de 2014

O Paulo Morais e Marquês de Pombal

 

O Paulo Morais escreveu o seguinte:

“Beneficiam hoje de rendas nas parceiras público-privadas da saúde como acontece com o grupo Mello ou o Espírito Santo. Obtêm concessões em monopólio, como acontece com a Brisa, detentora das auto-estradas de Porto a Lisboa. Já no antigo regime, obtinham licenças de favor ao abrigo dum modelo em que só os amigos do regime podiam criar empresas.

O poder que estes e outros grupos detêm atravessa todos os regimes e impede o desenvolvimento do país.

Portugal só progrediu, aliás, ao longo de toda a sua história, nos raros momentos em que os governantes tiveram a coragem de retirar privilégios aos poderosos. Foi assim com D. João II, mentor dos descobrimentos e autor do nosso maior tratado, o de Tordesilhas; à época, retirou todo o poder aos duques de Bragança, de Viseu e de Aveiro. Mais tarde, o Marquês de Pombal também só conseguiu reconstruir Lisboa, criar a região demarcada do vinho do Porto ou reformar a universidade porque liquidou o domínio da família Távora.

A nossa maior desgraça é que os grupos de favorecidos têm, na actualidade, fortes sucessores. Mas, infelizmente, governantes da têmpera de D. João II ou do Marquês de Pombal, com estratégia e coragem – esses é que nem vê-los!”

Paulo Morais tem razão em relação às rendas actuais, mas não tem razão em relação ao Marquês de Pombal.

O problema do Marquês com os Távoras surgiu ou foi consequência do problema do Marquês com os jesuítas. Os Távoras apanharam por tabela; ou melhor dizendo: os Távoras foram o bode expiatório da necessidade de afirmação absolutista do Marquês de Pombal e do rei José I. Dizia-se na altura: “Dom José no torno, e o Marquês no trono”. Parece certo que o duque de Aveiro esteve envolvido na tentativa de assassinato do rei, mas nada justificaria a carnificina sobre todos os Távoras — como se todos os membros da família dos Távoras fossem cúmplices da tentativa de assassinato.

Quando o Marquês de Pombal criou a Companhia de Grão-Pará, retirou aos jesuítas o controlo sobre os índios brasileiros, e entregou esse controlo a uma burguesia colonial local. O resultado foi devastador: as aldeias de índios brasileiros ficaram vazias, porque os índios debandaram para a floresta. O Marquês pretendia aumentar a exploração do trabalho dos índios, afastando os jesuítas; mas o resultado foi o inverso: os índios não aceitaram as novas regras e fugiram para o mato, abandonando as aldeias que os jesuítas controlavam. A ganância do Marquês virou-se contra ele.

Iniciou-se então um conflito entre os jesuítas e o Marquês de Pombal que durou anos. Os Távoras apoiaram os jesuítas, mais ou menos de forma velada, contra o Marquês.

Salazar não gostava do Marquês de Pombal, e com alguma razão.

A 13 de Janeiro de 1759, pelas sete horas da manhã, a velha marquesa Leonor de Távora foi decapitada publicamente em Belém, depois de lhe terem mostrado todos os instrumentos de tortura mortal e o modo como iriam morrer todos os outros membros da família — incluindo o marido e os filhos.

Os filhos da velha marquesa de Távora, Luís Bernardo, José Maria; e também o conde de Atouguia; e mais um criado e todos os assalariados do duque de Aveiro; e mais um criado dos marqueses de Távora, de seu nome Romeiro — todos eles foram estrangulados e rodados, mas só depois de lhe terem partido os ossos dos braços e das pernas com um martelo gigante de ferro.

O velho Marquês de Távora teve uma sorte um pouco diferente: esmagaram-lhe os ossos do peito com um martelo gigante de ferro, e depois partiram-lhe os ossos dos braços e das pernas; e, finalmente esmigalharam-lhe os ossos da cabeça com o martelo de ferro.

O duque de Aveiro berrava enquanto o martelo de ferro lhe esmagava o ventre e as partes pudibundas, mas antes de lhe ser esmagado o peito, partirem-lhe os membros e esmigalharem-lhe a cabeça com uma maça de ferro.

É esta merda de exemplo que o Paulo Morais vai buscar para justificar o seu (dele) conceito de “justiça”! É caso para dizer: PQoP!

1 comentário:

  1. "O duque de Aveiro berrava enquanto o martelo de ferro lhe esmagava o ventre e as partes pudibundas, mas antes de lhe ser esmagado o peito, partirem-lhe os membros e esmigalharem-lhe a cabeça com uma maça de ferro."

    E ainda falam do Salazar!...

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