domingo, 28 de setembro de 2014

A Inês Teotónio Pereira , Rousseau e a família

 

“Quando Rousseau pensou no contrato social, não imaginou que por aqui se fosse tão longe. Não imaginou que as famílias não reclamariam poder, deveres e direitos, e que não se organizassem como a célula-base de qualquer sociedade”.Inês Teotónio Pereira


Acredite o leitor se quiser: Rousseau era contra as associações e contra a família. Talvez a melhor análise do Contrato Social de Rousseau foi a de Bertrand Russell:

“A teoria política de Rousseau é apresentada no Contrato Social, de 1762. É de carácter muito diverso do da maior parte da sua obra; tem pouca sentimentalidade e muito raciocínio. As suas doutrinas, embora preguem democracia, tendem a justificar um Estado totalitário”.

Bertrand Russell, “História da Filosofia Moderna”, página 635, 9ª Edição, tradução do professor doutor Vieira de Almeida, 1961, Lisboa.

E segue-se nas páginas 636 e 637:

“O contrato consiste na 'alienação total dos direitos de cada associado em favor da comunidade; em primeiro lugar, como cada um se entrega absolutamente, as condições são iguais e daí ninguém ter interesse em torná-las opressivas a outros'. A alienação é sem reserva. 'Se houvesse indivíduos com certos direitos, não havendo superior comum para decidir entre eles e o público, cada um deles, juiz de si mesmo, pretenderia sê-lo dos outros. Continuar-se-ia o estado de natureza, e a associação necessariamente se tornaria inoperante ou tirânica'.

Isto implica completa ab-rogação da liberdade e completa rejeição dos direitos do homem. É verdade que em capítulo ulterior se atenua a doutrina, dizendo que embora o contrato social dê ao corpo político poder absoluto sobre os seus membros, os seres humanos têm direitos naturais, como homens”.


Bem sei que a ideia que a Inês Teotónio Pereira tem de Rousseau é vulgar e comum; mas nem tudo o que é vulgar e comum corresponde à verdade. Ela deveria ter escrito o seguinte:

“Quando Rousseau pensou no contrato social, imaginou que por aqui se fosse tão longe. Imaginou que as famílias não reclamariam poder, deveres e direitos, e que não se organizassem como a célula-base de qualquer sociedade”.

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