“É precisamente este “casamento” entre religião e ciência que incomoda Carlos Fiolhais, físico e um dos mais conhecidos divulgadores científicos portugueses. “Isso é um pouco mais perigoso. O perigo está em uma pessoa querer ir buscar à ciência fundamentos para a crença”, explica. “A crença em Deus, segundo penso, radica num ato que de modo algum tem sustentação científica. A fé, a crença, é um salto, que algumas pessoas conseguem dar e outras não, que é um impulso para o desconhecido. Fé é querer o desconhecido.” → Carlos Fiolhais
Eu não estou totalmente de acordo com o Carlos Fiolhais ; mas não é isso que está agora aqui em causa. O que interessa agora é que Carlos Fiolhais tenta basear-se em factos para defender a sua tese: o que conta é a forma de raciocinar de Carlos Fiolhais.
“Teresa Toldy, teóloga e professora universitária, também entende que “o discurso religioso é uma coisa e o discurso científico outra”. Mas não considera que o Papa Francisco estivesse a tentar encaixar as duas variáveis numa só”.
Acho que o que ele está a dizer é que uma não é incompatível com a outra”, defende.”
A teóloga especula sobre a putativa e eventual intencionalidade das palavras do papa. Ela não fala de factos: interpreta subjectivamente aquilo que ela pensa que o papa quereria eventualmente dizer.
Isto não significa que todos os teólogos e filósofos utilizem o mesmo método de análise da teóloga Teresa Toldy. O que se quer dizer é que o argumento da teóloga Teresa Toldy não é válido. Quando interpretamos as palavras de alguém, devemo-nos basear em factos objectivos (no sentido puro das palavras, evidentemente intersubjectivas e de acordo com o senso-comum) e não (apenas) na nossa subjectividade. “Interpretar” não é necessariamente “adulterar” ou “enviesar”.
Carlos Fiolhais está errado quando diz que “o perigo está em uma pessoa querer ir buscar à ciência fundamentos para a crença.”
Em primeiro lugar, a ciência é baseada em crenças. Por exemplo, quando a ciência diz que “a lei da gravidade se aplica igualmente em qualquer parte do universo”, trata-se de uma crença porque não há nenhuma verificação empírica desse facto. Este assunto “daria pano para mangas”. Em última análise, até o empirismo é uma crença.
Em segundo lugar, não há nenhuma incompatibilidade no facto de a ciência corroborar a religião (ou a metafísica). Trata-se de “corroborar”, e não de “fundamentar” como diz Carlos Fiolhais. “Corroborar” não é a mesma coisa que “fundamentar”. De modo semelhante, a religião (ou a metafísica) pode também corroborar a ciência (ou teorias científicas).
O problema do papa é que ele não quis corroborar coisa nenhuma. Como é costume nele, só disse asneiras.
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