domingo, 30 de novembro de 2014

A teoria científica como “explicação” da realidade

 

O Carlos Fiolhais explica aqui, embora de forma enviesada, por que razão Galileu foi condenado pela Igreja Católica; mas não explica por que razão Copérnico, que defendeu a mesma tese de Galileu antes deste, não foi condenado pela Igreja Católica. Ou seja, a teoria de Carlos Fiolhais é deficitária e tem que ser substituída por uma teoria melhor.

“Qualquer cientista propriamente dito reconhece hoje, e a partir da perspectiva actual segundo o conceito de paradigma de Thomas Kuhn, que a reacção do Papa às teses de Galileu foi absolutamente correcta. As teses de Copérnico receberam o imprimatur porque foram formuladas como hipóteses. Porém, Galileu não quis formular quaisquer hipóteses, mas afirmar verdades absolutas — e isto numa época em que a hipótese de Ptolomeu podia explicar melhor muitos fenómenos celestes.

A Igreja Católica, naquela época, defendeu a concepção científica mais moderna embora se tenha atido a concepções cosmológicas erradas.”

Afinal, ¿do que é que Carlos Fiolhais está a falar quando se refere ao bosão de Higgs? Está a falar de uma “teoria que explica alguma coisa”. ¿E o que é uma “teoria”?

1/ o fundamento de qualquer teoria é a Lógica que não existe da mesma forma na realidade quântica e na realidade macroscópica. Na realidade quântica, “a nossa lógica é uma batata”. O que significa, por inferência, que as teorias científicas acerca da realidade quântica são apenas “teorias da batata” (hipóteses mais ou menos verificáveis).

2/ a “lógica dedutiva”, que está subjacente à teoria científica, baseia-se por sua vez na teoria do silogismo de Aristóteles: é, ela própria uma teoria da validade das inferências lógicas ou da relação de sequência lógica. Se as premissas de uma inferência válida forem verdadeiras, então segue-se que a conclusão também deverá ser verdadeira.

3/ na ciência trabalha-se com teorias, ou seja, sistemas dedutivos que tentam “explicar” um problema científico. Mas não se trata de “explicar”: trata-se de “descrever” — porque se uma teoria científica se baseia na “lógica dedutiva” que é ela própria uma teoria, a ciência prossegue em circulus in demonstrando: a teoria científica baseia-se sempre em uma teoria prévia e axiomática (a Lógica), e portanto, o conceito de “teoria científica” é tautológico. Uma tautologia não explica nada: apenas pode descrever alguma coisa.

4/ é melhor ter uma teoria, apesar da tautologia, do que não ter nenhuma — porque uma teoria revela a preocupação com a verdade que nos distingue dos animais irracionais.

5/ não existe uma ciência de observação pura: todas as ciências estão imbuídas de teorias. O leitor retire desta proposição a conclusão que quiser.

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