domingo, 14 de dezembro de 2014

Gouine comme un camion

 

“No último domingo à noite, saiu do bar no qual trabalha e foi tomar um copo. Seriam umas 7h30, talvez 7h40, quando entrou no primeiro táxi estacionado na Praça da República, no Porto. Estava a falar ao telemóvel. A colega que a acompanhava disse-lhe o quanto gosta dela e ela respondeu-lhe com um beijo na boca.”

"Temos direito de andar na rua sem medo"


Vamos contar a estória da lésbica de outra maneira.

No último domingo à noite, saiu do bar no qual trabalha e foi tomar “um copo” que foram muitos. Seriam umas 7h30, talvez 7h40 da matina, quando entrou no primeiro táxi estacionado na Praça da República, no Porto, depois de uma noite sem dormir e atafulhada de bebidas alcoólicas.

A colega que a acompanhava disse-lhe o quanto gosta dela e ela respondeu-lhe com um beijo na boca. Fechou a porta do táxi sem desligar o telemóvel. Não sabia precisar para que rua ia, porque o excesso de álcool e o cansaço de uma noite em branco toldavam-lhe o discernimento. Disse ao taxista que seguisse até à Ponte do Infante, que depois lhe indicaria mais ou menos o caminho. A rua, cujo nome lhe escapava, ficaria à direita.

O taxista, sentindo o forte bafo a álcool da cliente, não arrancou. Ele insistiu que ela informasse exactamente o sítio para onde deveria ir, antes de aceitar o serviço para um local que nem a própria cliente sabia qual era — é que a vida de taxista é cheia de calotes e problemas de cobrança das corridas!

Perante a insistência do taxista em saber o local exacto para onde ir, o álcool da cliente falou mais alto:

--- “Você vai para onde lhe mando, e é já!”.

Naquele momento, o taxista pensou que o carro ainda era dele, porque vivemos em um país onde ainda existe propriedade privada; e disse à cliente (que por acaso era lésbica):

--- “A senhora desculpe-me: ou me diz exactamente para onde devo ir, ou sai da viatura”.

Foi aí que a lésbica, estando na companhia da sua fêmea, “virou” macho.

A "Gouine comme un camion", bêbeda que nem um carro, adopta as fauces típicas da Isabel Moreira e berra:

--- “Saio do carro, o caralho! Você leva-me aonde eu quiser e esteja calado!”

Em acto contínuo, o taxista abre a sua porta e sai do seu lugar, e dirige-se para a porta da “Gouine comme un camion”, abrindo-lhe a porta no sentido de a convidar a que ela saia do seu carro. Foi nessa altura que a Gouine utilizou o seu epíteto preferido quando se refere a qualquer homem: “Você é um escroto!”

Gouine comme un camionPerante isto, o taxista puxou-a para fora do carro, ao que a Gouine replicou com uma bofetada, berrando: “Seu escroto!”. Em auto-defesa, o taxista aplicou-lhe um soco na cara, afastando a Gouine da sua viatura.

Quando o taxista reentrou no seu carro para ir à sua vida, a Gouine colocou-se à frente da viatura, impedindo a sua marcha. Foi então que o taxista se passou dos carretos: saiu novamente do carro, deu-lhe um par de ameixas nas fauces e um pontapé nas virilhas (como se faz aos machos), e arrastou-a para fora do caminho que a viatura deveria seguir.

Na praça, como se nada fosse, continuariam outros dois taxistas — porque este tipo de cenas com bêbedos a sair da noite, é cada vez mais recorrente e normal.

Socorreu-a uma equipa do Instituto Nacional de Emergência Médica, que a conduziu ao Hospital Geral de Santo António. Não retornou a casa sem antes passar por uma esquadra da PSP e pelo Instituto de Medicina legal.

Volvida uma semana, ainda tem um hematoma no rosto, dores nas costas, no pescoço, nas pernas. O médico recomendou-lhe seis a oito semanas de repouso. Não se penteia. Desloca-se de muletas — terá uma ruptura muscular na perna direita. Nem lhe falem em entrar num táxi.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Neste blogue não são permitidos comentários anónimos.