terça-feira, 14 de abril de 2015

O culto é a raiz de tudo

 

“Ora, este é um dos pontos em que discordo da perspectiva de Rodrigo Constantino. Diz ele que devemos separar o autor, o criador, das opiniões políticas.

Que o actor pode ser um bom actor mas as suas opiniões desprezíveis. Certo, por sinal já pensei assim, hoje não. Não considero a possibilidade da separação entre as coisas, na medida em que vejo a pessoa como uma totalidade e como pertencente, para mais, a uma comunidade.

Não existe um indivíduo em parcelas, uma para a política, outra para o palco, outra para o dia-a-dia, etc. Tudo faz parte do todo. É também essa totalidade que tem de ser desmontada. E que não é, muitas vezes (para não dizer todas), pelos escritores liberais.”

Desconstruir a Esquerda caviar

Eu não sei quem é o Rodrigo Constantino (sou péssimo a fixar nomes), mas a julgar pelo trecho supracitado, também não concordo com ele.

Antes de mais temos que saber o que é um “bom actor”. Na arte (estética), como na ética, é difícil encontrar uma objectividade, e portanto um “bom actor” pode ser bom para o Constantino e não ser bom para mim.

É verdade que a neve é branca, mas já não é tanto verdade que “o actor é bom”. Temos que saber o que significa “bom”, e G E Moore ajuda-nos com a falácia naturalista.

Um indivíduo com icterícia veria a neve amarela, e para ele não faria sentido que se lhe dissesse que “a neve não é amarela” — a não ser que ele reconheça que tem icterícia. Uma pessoa pode padecer de uma “icterícia cultural” inconsciente e ver o mundo todo amarelo e convencer-se de que o vê de forma correcta. O “actor amarelo” do Constantino pode não ser o actor com cores normais.

A política expressa a cultura, e a cultura expressa o culto. O culto é a raiz de tudo. E o “actor amarelo” do Constantino — ou seja quem for — não deixa de se expressar segundo o seu culto. Ora, é o culto que pode estar objectivamente errado porque não tem em consideração o Absoluto. Um culto de uma pequena parte da realidade é um culto errado. Um culto de uma parte da realidade é doxa (opinião); um culto do Absoluto é episteme (sabedoria e conhecimento).

Uma coisa é o “actor amarelo” do Constantino que ama as coisas estéticas particulares que são belas, e por isso ele tem opinião; outra coisa, diferente, é amar a “beleza em si” que pertence ao Absoluto e que revela a objectividade da sabedoria e até do conhecimento (Platão).

É impossível separar o homem do seu culto. E é o seu culto que faz a sua cultura que, por sua vez, se reflecte nas suas opções políticas, estéticas e éticas.

1 comentário:

  1. Sei bem quem é o Rodrigo Constantino porque durante bastante tempo fui um seguidor do mesmo, até que me fartei do seu neoliberalismo fanático e dogmático.

    Reconheço ao Rodrigo Constantino algumas virtudes, mas não sou adepto da sua doutrina económica.

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