sexta-feira, 5 de junho de 2015

O argumento ad Terrorem da saída da Grécia do Euro

 

O semanário “O Diabo” invoca aqui argumentos ad Terrorem para a possível saída da Grécia do Euro. O “clube do Euro” parece ser uma espécie de clube gay: toda a gente pode entrar, mas ninguém consegue sair.

Os argumentos ad Terrorem vão ao encontro do conceito neoliberal de “fim da história”, de Francis Fukuyama (que copiou o conceito de “fim da história” de Karl Marx): quem sair do Euro enfrenta o fim do mundo... !

Eu não sei como vive o cidadão grego médio, e portanto convém não especular. Normalmente, no que diz respeito à política, devemos falar daquilo que sabemos por experiência própria. Naturalmente que, à falta de experiência, temos que acreditar minimamente em alguma informação de terceiros:

  • a economia grega caiu 10% em 2 anos (2012 e 2013); a economia portuguesa caiu 5% no mesmo período. Isto significa que o PIB per capita grego era muito maior do que o português no início da crise das dívidas soberanas. Ou seja, os portugueses, antes da crise global, viviam mais de acordo com as suas possibilidades quando comparados com os gregos;
  • o peso da indústria na economia portuguesa é de 22,4%; o peso da indústria na economia grega é de 15,9%. por exemplo, na Itália é de 23,9%; na Alemanha é de 30,8%. O peso da indústria na economia grega é muito baixo para um país da zona Euro.
  • a taxa de poupança na Grécia é de 14,5%; em Portugal é de 16,3%; na Itália é de 18,6%; na Alemanha é de 23,9%.

Estes são apenas alguns dados que nos indicam claramente que não só a entrada da Grécia no Euro foi um erro, como a saída apoiada e sustentada do Euro será necessária. A permanência da Grécia no Euro é uma impossibilidade objectiva; e com a saída apoiada e sustentada da Grécia do Euro, e depois de uma desvalorização do dracma na ordem dos 50% em relação ao Euro, a sua economia começará a crescer a mais de 3% por ano.

A alternativa à saída da Grécia do Euro será um país em que os capitais gregos “fogem” para os países do norte, por um lado, e por outro  lado o PIB per capita grego tende a deteriorar-se até aos níveis do da Roménia. A Grécia não tem futuro dentro do Euro; e a situação de Portugal também é duvidosa, embora beneficie da dinâmica da economia espanhola (os gregos não têm um vizinho como Espanha dentro da zona Euro).

A manutenção da Grécia dentro do Euro será uma lenta agonia para aquele país. Com as taxas de crescimento médias da zona Euro de 0,5% (ou coisa que o valha), a Grécia nunca mais se levanta do chão se permanecer no Euro, nem nunca poderá pagar as suas dívidas. Admira que o semanário “O Diabo” não veja isto e siga o centrão político eurófilo.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Neste blogue não são permitidos comentários anónimos.