sábado, 4 de julho de 2015

A Fé Metastática de José Pacheco Pereira e o grau zero do pensamento

 

O José Pacheco Pereira confunde propositadamente a puta da realidade (ler verbete) que condiciona não só a Grécia mas qualquer outro país e/ou povos, por um lado, com “possibilidade”, por outro lado.

Vamos ver o que significa a “puta da realidade”:

“Realidade” vem do latim “res”, coisa. No sentido comum (que é o que nos interessa agora), a realidade é o conjunto das coisas que têm uma existência objectiva e constatável.

“Possibilidade” é outra coisa: é aquilo que não é, mas que poderia eventualmente ser — ou, por outras palavras, a possibilidade é tudo aquilo que não implica contradição lógica. Enquanto o possível não é, distingue-se da existência; enquanto o possível pode ser, distingue-se da necessidade.

Será possível que a Grécia mantenha o PIB per capita actual com a economia real que tem?

Em tese é possível. Por exemplo, se a Grécia convencer os outros países da Europa a  sustentar os gastos do Estado grego, é possível à Grécia continuar a ter o actual PIB per capita. O problema é o de saber se é possível que a democracia grega seja superior, em valor, às democracias dos outros países da Europa.

O José Pacheco Pereira compara a actual situação da Grécia, por um lado, com a situação de Portugal de 1640 sob domínio espanhol. É aqui que o pensamento de José Pacheco Pereira atinge o grau zero, porque compara coisas que não são comparáveis (não tem nada a ver o cu com as calças). E explico por quê.

Está implícito no pensamento do José Pacheco Pereira que a Grécia está hoje “dominada” pela Europa, tal qual estava “dominado” Portugal pelos espanhóis em 1640 (a noção marxista cultural de “domínio”). Porém, a Grécia tem hoje a liberdade de sair da União Europeia e do Euro — ao passo que Portugal não tinha a liberdade de se tornar independente de Espanha em 1640 (ficando mais pobre ou mais rico: para o caso não interessa).

No caso da Grécia actual, podemos dizer qualquer uma de três coisas:

  • é possível à Grécia sair do Euro (se quiser);
  • é verosímil que a Grécia possa sair do Euro (se quiser);
  • é provável que a Grécia possa sair do Euro (se quiser).

Em relação a Portugal de 1640, dada as condições políticas daquela época, só poderíamos dizer: “era possível a Portugal ser independente de Espanha (se quisesse)”. Em 1640 não havia verosimilhança nem probabilidade credível. Ou seja, a puta da realidade era diferente nos dois casos. A comparação do José Pacheco Pereira (entre a Grécia actual e o Portugal de 1640) é absurda e revela o grau zero do pensamento político da Esquerda portuguesa.

O que não é de espantar é que a populaça esquerdista aplauda o populismo do José Pacheco Pereira que ele tanto critica nos outros. Para o José Pacheco Pereira, o “populismo” é só de direita: quando o populismo é de esquerda, é “democracia”.

Tanto o José Pacheco Pereira como a populaça esquerdista padecem de Fé Metastática.

Fé Metastática é a crença de que é possível mudar a natureza fundamental da realidade.

Eric Voegelin usava o termo "fé metastática" para designar a crença ou esperança numa repentina transfiguração da estrutura da realidade e na subsequente emergência de uma ordem paradisíaca.

A expectativa dessa transformação perpassa toda a literatura revolucionária desde o século XVI. Com o tempo, acabou por se tornar uma figura de pensamento incorporada de tal modo nos usos populares, que a ela se pode recorrer com relativa certeza do efeito psicológico, a despeito do fracasso de todas as transfigurações anteriores.

(Olavo de Carvalho)

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