sábado, 25 de julho de 2015

A filha-da-putice do Anselmo Borges e do seu "papa Francisco"

 

Imagine o leitor que eu faço a seguinte asserção: “O direito à vida humana é sagrado”. Estamos no âmbito do Direito Natural. Qualquer pessoa com dois dedos de testa e com um mínimo de sensibilidade moral concordaria com ela.

Agora imagine a seguinte asserção: “ O direito à vida humana é sagrado, e todos os seres humanos têm o direito de ser ricos”. Aqui temos uma mistura de Direito Natural (a primeira parte da proposição que é o significante), e uma qualquer ideologia política que marca o Direito Positivo (que é o significado da proposição) — ou seja, existe uma assimetria conceptual entre as duas partes da asserção que submete o significante ao significado.

O ex-padre  Anselmo Borges escreve o seguinte:

«Na recente visita do Papa Francisco à América Latina, foi marcante, para dizer ao que vem este pontificado, o discurso no encerramento do II Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Continuou a reclamar "os três t": terra, tecto, trabalho. "Disse e repito: são um direito sagrado."

E que estava a falar não apenas de problemas da América Latina, mas de toda a humanidade: "Está-se a castigar a Terra, os povos, as pessoas, de um modo quase selvagem." É preciso "dizer não a uma economia de exclusão e iniquidade", assegurando que "o problema é um sistema que continua a negar a milhares de milhões de irmãos os mais elementares direitos económicos, sociais e culturais" e que este sistema "atenta contra o projecto de Jesus", já que o destino universal dos bens não é um adorno da doutrina social da Igreja, mas uma realidade anterior à propriedade privada.»

Os “três t” fazem parte do Direito Natural (o significado). Mas o resto do relambório (o significante) já não faz parte do Direito Natural: antes, faz parte de uma qualquer ideologia política (neste caso, parece-me que é marxismo) que tem a ver com uma visão específica do Direito Positivo.

Ora, é possível defender o Direito Natural sem cair na armadilha de postular uma ideologia política característica de um determinada cultura de época: foi isto que fez, por exemplo, o Papa Leão XIII com a encíclica Rerum Novarum: defendeu o Direito Natural sem se imiscuir nas ideologias políticas da época, fossem liberais, socialistas ou marxistas do século XIX.

Nunca Jesus Cristo — nem os apóstolos — alguma vez disseram que “a propriedade privada é posterior ao destino universal dos bens” (seja o que for que isto signifique); nem sequer se pode verificar se alguma vez existiu uma sociedade em que não existisse propriedade privada.

Aliás, Jesus Cristo nunca disse que é impossível a um rico entrar no Reino de Deus (repito: impossível). Os ricos são seres humanos como todos os outros (segundo Jesus Cristo) que podem ter um comportamento consentâneo com a salvação. Jesus Cristo criticou comportamentos (actos) — tanto de ricos como de pobres —, mas não condenou as pessoas em função específica das suas posses materiais.

Podemos ver, por exemplo, na parábola dos talentos (Mateus 25:14-30) que Jesus Cristo utilizou a linguagem natural que marca a realidade humana segundo a qual os seres humanos não são todos iguais: uns fazem multiplicar os talentos recebidos, e outros nem tanto.

Jesus Cristo não foi um revolucionário marxista como é o  Anselmo Borges e o "papa Francisco". A realidade humana, das desigualdades, foi aceite por Jesus Cristo como sendo natural, embora eivada de imperativos éticos que decorrem da sensibilidade moral do indivíduo — “porque sabendo nós que Deus se preocupa com o indivíduo, não devemos esquecer que Ele parece preocupar-se pouco com a humanidade” (Nicolás Gómez Dávila). 

A filha-da-putice do  Anselmo Borges e do seu (dele) "papa Francisco" é a de transformar Jesus Cristo em um marxista.

1 comentário:

  1. É o materialismo manhoso. O que o Papa e os sequazes aqui fazem é o papel do Tentador. Afinal, uma das tentações no deserto foi precisamente a da materialidade, se assim podemos dizer. A resposta de Jesus é bem conhecida: nem só de pão vive o homem. E nesse pão certamente se inclui o "trabalho, terra e tecto" dos marxistas. O materialismo entranhou-se de tal maneira na Igreja que parece um dado adquirido.

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