domingo, 27 de setembro de 2015

A comunicação e a crise de autoridade

 

Vejo aqui uma reprodução parcial de um texto de Isabel Lucas Bernardo Carvalho que aborda os problemas dos me®dia, das redes sociais, e da verdade.

julien bendaEla mistura, de certa forma, os três problemas; sendo, porém, que são distintos — é um pouco a confusão entre a dialéctica dos contrários, por um lado, e o nexo dos distintos, por outro lado: ao colocar os me®dia e as redes sociais em oposição dialéctica em relação à verdade, perde-se a noção dos distintos, fazendo com que os supostos contrários, abstractamente tomados, preencham as funções mesmas dos conceitos distintos, e fazendo com que esse erro da mistura dos conceitos se transmute em verdade (a verdade dela); uma verdade particular, uma verdade de grau inferior do espírito, ou uma categoria.

O problema dos me®dia é distinto dos outros dois, e tem a ver com a crise da autoridade de que nos falou a Hannah Arendt. Aqui, meus amigos, não há muito a fazer, porque baptizados os erros dos me®dia como verdades (de certa espécie), já nada impede que todos os erros (o erro em geral) sejam considerados como verdades particulares. A fenomenologia do erro assume, assim, as aparências de uma história ideal da verdade. E ao longo de um processo de incremento de um cepticismo na cultura antropológica, surge o cepticismo generalizado que coloca em causa a democratização da informação me®diática.

Quando a crise da autoridade entra pelos me®dia adentro — por culpa dos próprios me®dia que praticam sistematicamente a sub-informação e a pseudo-informação, por um lado, e por outro lado por culpa de uma cultura individualista radical que assume que a verdade está no indivíduo —, as redes sociais assumem uma função de filtragem céptica da comunicação me®diática. Mas essa filtragem é realizada de forma subjectiva porque vivemos em uma cultura solipsista em que o indivíduo, em geral, não se coloca em causa de forma racional. Neste caldo cultural, o facto deixa de ser um dado da experiência intersubjectiva com o qual o pensamento individual pode contar, para se transformar em algo que adquiriu uma estrutura meramente subjectiva na consciência do indivíduo.

Escreve a Helena Damião:

« Bernardo Carvalho escreveu um livro cujo título é “Reprodução” e que diz ser "uma reacção a este mundo que privilegia o discurso único, a leitura de primeiro grau, sem ironia nem imaginação, a ideia de que existe uma verdade num meio que parece absolutamente democrático, quando a democracia tem pouco a ver com absolutos". »

Isabel Lucas Bernardo Carvalho entra em contradição. Por um lado, diz que “a democracia tem pouco a ver com absolutos”, mas por outro lado defende a ideia segundo a qual é possível a verdade em democracia — sendo que não é possível qualquer noção relativa, sem o respectivo conceito absoluto. Ou seja, a Isabel Lucas Bernardo Carvalho é ela própria vítima da crise de autoridade que ela critica na sociedade dita “democrática”.

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