domingo, 27 de setembro de 2015

Perfeito exemplo do que é a "Vontade Geral" segundo Rousseau

 

«Por muito que ofenda o espírito pretensamente democrata mas essencialmente acéfalo dos nossos tempos, a “vontade popular” não existe.

O “povo”, enquanto entidade colectiva mais ou menos etérea, não se pronuncia nem tem vontade. Quem se pronuncia são os vários indivíduos que integram o dito “povo”, expressando cada um deles a sua – muito sua – vontade individual. E o resultado eleitoral que sai do somatório das várias cruzinhas que são colocadas nos boletins de votos preenchidos pelos indivíduos que se dão ao vão trabalho de ir votar não forma uma vontade colectiva.

Aquilo que umas eleições apuram não é a “vontade popular”, mas qual a dimensão de cada um dos conjuntos de vontades individuais que, sendo iguais umas às outras, se agregam.

Nas eleições legislativas de 4 de Outubro, não estaremos a apurar qual é a “vontade” do “povo português”, mas apurar quantos portugueses preferem a coligação PSD/CDS, quantos preferem o PS, quantos preferem o PCP, quantos preferem o BE, e por aí fora. E qualquer solução governativa que o apuramento dessas preferências torne possível será igualmente legítimo do ponto de vista “democrático” – ou dito de forma mais precisa, “representativo”.»

Este “post” foi escrito por um militante do Partido Social Democrata — o que revela a maleita comum em muita gente desse partido. Segundo o texto, a voto expresso por uma maioria de indivíduos não expressa uma vontade da maioria. O politicamente correcto também existe no Partido Social Democrata; e neste caso traduz-se na negação do conceito de juízo universal.

Pode acontecer que não exista, em um determinado momento ou em umas eleições, uma clara vontade de uma maioria expressa em um determinado projecto político. Ou seja, o povo pode estar dividido. Mas a divisão do povo — que é composto por indivíduos — não significa que não exista uma vontade da maioria que, no caso da divisão, não é consonante ou convergente.

A vontade da maioria de indivíduos, consonante ou dissonante, é a vontade popular.

O que o escriba do Partido Social Democrata defende é outra coisa: a "Vontade Geral", segundo Rousseau. A "Vontade Geral" não é a mesma coisa que “vontade da maioria” (ou vontade popular). Não sei se o idiota do Partido Social Democrata se deu conta, mas o que ele defende é um princípio potencialmente totalitário.

A ideia segundo a qual “o povo é uma entidade abstracta” vem de Hobbes e depois Rousseau, e esteve na origem dos totalitarismos do século XX.

Desde que Cantor descobriu a teoria dos conjuntos que constatamos uma evidência que é eterna: um grupo é constituído por indivíduos; mas o grupo não se reduz a cada um dos indivíduos. Um grupo de indivíduos, por mais efémero que seja a sua constituição, é uma categoria. E sem categorias não é possível analisar e compreender a realidade.

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