sábado, 12 de março de 2016

A plutofobia e a Teoria Crítica do Anselmo Borges

 

1/ Imaginemos um mundo onde ninguém morria de fome e em que as doenças comuns eram tratadas com um mínimo de dignidade. Neste cenário, o Anselmo Borges viria criticar esse mundo injusto, afirmando, por exemplo, que uma minoria da população do mundo tem aparelhos de televisão de plasma e Mercedes-Benz, e que a esmagadora maioria dos pobres vê as telenovelas em aparelhos de televisão anacrónicos e conduz um Smart.

Que mundo injusto!, seria esse!, Anselmo Borges!

O ideário revolucionário, que o Anselmo Borges defende, é responsável pelo maior morticínio de que reza a História — desde o nazismo aos Gulag, passando por Mao Tsé Tung e Pol-pot. Mas enquanto houver uma só pessoa que morre de fome no mundo, o Anselmo Borges não calará a sua voz contra os ricos. A estratégia ideológica do Anselmo Borges baseia-se na Teoria Crítica do marxismo cultural da Escola de Frankfurt: criticar, criticar, criticar!; ¿e soluções praticamente viáveis? nenhumas.

Imaginemos que, há vinte anos, um pobre ganhava em Portugal 200 Euros em média, e um rico ganhava 100.000 Euros. E suponhamos que hoje um pobre ganha 600 Euros, e um rico 200.000 Euros. Ou seja, ambos aumentaram os seus rendimentos; mas o Anselmo Borges viria dizer que o pobre saiu prejudicado do negócio e que o país está pior.

Morria muito mais gente de fome, no mundo, há trinta anos do que hoje. Mas o Anselmo Borges só se foca nos ricos. Não lhe interessa saber se a fome diminuiu no mundo: basta que haja um só pobre que morra de fome no mundo para que ele sinta que tem legitimidade para atacar os ricos. Ora vejam o que o Anselmo Borges escreve:

“Os pobres, apesar de, em geral, estarem menos mal, são cada vez mais pobres”.

procrustes07Ou seja, segundo o Anselmo Borges, os pobres estão menos mal do que no passado, mas estão cada vez mais pobres. Estão menos mal, mas mais pobres; estão menos pobres, não obstante estejam mais pobres. São uma coisa e o seu contrário. O que interessa é atacar os ricos.

Se um dia um pobre andar de Mercedes-Benz, e um rico de disco voador, o Anselmo Borges virá dizer: “Os pobres, apesar de, em geral, estarem menos mal, são cada vez mais pobres”. O que é intolerável é que o rico ande de disco voador; o direito do pobre ao Mercedes-Benz é inviolável e tem direito também ao disco voador. E se todos não têm um disco voador, então segue-se que ninguém tem direito a disco voador. O Anselmo Borges faz lembrar a estória de Procrustes.

Se um dia, por hipótese, o capitalismo acabar com a fome no mundo, a ausência da fome no mundo irá ser invocada pelo Anselmo Borges para acabar com o capitalismo — porque o Anselmo Borges raciocina em Circulus In Demonstrando: o "telos" do Anselmo Borges é acabar com o capitalismo, e a “fome no mundo” é apenas um instrumento circunstancial da doutrina.

2/ o Anselmo Borges critica o globalismo capitalista, mas simultaneamente defende um governo mundial. Ou seja, estamos em presença de dois tipos de globalismo: e o Anselmo Borges pensa que o dele é melhor do que o outro. Não é o globalismo em si mesmo, e o desprezo pelas nações, que o Anselmo Borges critica; para ele, as nações devem ser sacrificadas em função de um governo mundial em que os relapsos encontrarão refúgio político em Marte. O pensamento do Anselmo Borges é totalitário.

Ou seja, o Anselmo Borges faz (orgulhosamente) parte do problema do globalismo.

3/ o mais desprezível, em Anselmo Borges, é a instrumentalização ideológica do Cristianismo.

A parábola dos talentos, de Jesus Cristo, por exemplo, é um apelo à meritocracia e ao esforço pessoal. Jesus Cristo não criticou o rico enquanto tal: criticou a avareza. E um homem avaro pode não ser rico. Aliás, uma característica dos anti-capitalistas é o amor inusitado pelo dinheiro — o que justifica a obsessão do Anselmo Borges em relação aos ricos.

4/ não se presuma, deste meu texto, que o mundo está em ordem e que não necessita de alterações.

O que nós não devemos fazer é partir dos mesmos pressupostos do capitalismo para o atacar, por um lado, e por outro lado, não devemos atacar o capitalismo quando a História já nos demonstrou que a alternativa a ele é a utopia sanguinária.

No utopista Anselmo Borges dorme um sargento da polícia.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Neste blogue não são permitidos comentários anónimos.