domingo, 19 de junho de 2016

Anselmo Borges e os podres da Igreja Católica

 

Parece que, para o Anselmo Borges, a Igreja Católica anterior ao Concílio do Vaticano II, só tem defeitos. Depois do Vaticano II, “o Sol nasceu para a Igreja Católica e para a humanidade”, os amanhãs passaram a cantar, a realidade transmutou-se por intermédio de uma fé metastática.

Anselmo Borges faz de conta que não sabe que o único “progresso” que existe, de facto, está na ciência. Falar em “progresso da sociedade” é demagogia política: por exemplo, se a escravatura tradicional foi abolida, criaram-se entretanto outras formas modernas de escravatura que não são menos perversas. Vou dar aqui um exemplo.

Na Idade Média, os mendigos andavam livres nas ruas das povoações e cidades; e quando pediam esmola a um rico burguês ou a um nobre, quem lhes dava a esmola pedia em troca uma oração pela sua alma. Ou seja, a mendicidade era uma profissão socialmente útil, porque quem dava esmola recebia qualquer coisa em troca.

A partir do momento em que a Reforma retirou à penitência religiosa, por um lado, e à acção moral individual, por outro lado, a sua importância tradicional medieval, o Estado tomou conta da vida dos indivíduos.

E como a mendicidade não acabava, o Estado passou a restringir a liberdade dos mendigos naquilo a que Foucault chamou de “Grande Encarceramento”: os mendigos deixaram de ser úteis à sociedade, e passaram a ser reprimidos e encarcerados. Através da rotulagem do “pobre” e de sinais distintivos afins, a caridade católica da Idade Média que se caracterizava por um modo de relação, transformava-se, no mundo moderno dos “direitos humanos” do Estado, em um modo de segregação.

E Anselmo Borges chamaria a isto “progresso”. A ideia de que “o progresso é uma lei da natureza” é própria de uma mente doente.

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