quinta-feira, 23 de junho de 2016

O puritanos da Esquerda moderna, e os puritanos do século XVII (parte 1)

 

Os Ranters eram uma seita calvinista inglesa do século XVII. Juntamente com os Seekers e com os Quakers, formavam as principais seitas calvinistas em Inglaterra.

quakerOs Ranters, que interpretavam a sua própria vitória sobre o “corpo” e sobre a “carne” (sobre a “matéria”, em termos gerais) denominando-se a eles próprios como o “corpo de Deus” — defendiam o fim da hierarquia social e o fim da propriedade privada, para além de serem contra o casamento monogâmico e contra a privacidade da família nuclear tradicional, porque diziam eles que a propriedade privada e o casamento monogâmico eram obstáculos à formação de uma verdadeira comunidade (tal como Engels defenderia dois séculos mais tarde).

Mas, ao mesmo tempo que queriam abolir a hierarquia social e a propriedade privada, os Ranters acreditavam na predestinação da “salvação dos eleitos”; e eles consideravam-se a si próprios como os “eleitos”. Ou seja, só os eleitos — eles próprios — seriam salvos, e por isso toda a gente deveria pensar como eles para serem salvos.

Temos aqui a génese do pensamento totalitário da Esquerda moderna.

Os Quakers e os Seekers não diferiam muito dos Ranters. Os Seekers, para além de concordarem com a doutrina dos Ranters, eram uma seita terrorista: para eles, não era suficiente que os “eleitos” se mantivessem fora do mundo (vivendo em uma espécie de apartheid): deviam pegar em armas, destruir todos os governos existentes, e erigir um regime teocrático (totalitário), com uma disciplina divina.

Se retirarmos dessas crenças calvinistas os conceitos de “Cristo” e de “Espírito”, vemos semelhanças com a Esquerda. É neste sentido que Eric Voegelin tem razão quando relaciona espistemologicamente os gnósticos da Antiguidade Tardia, os movimentos puritanos do século XVI, e o movimento revolucionário do século XIX e seguintes.

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