sábado, 29 de abril de 2017

Ó Anselmo Borges: toma lá, embrulha, e leva para casa

 

Eu tive aquilo a que se convencionou chamar uma “experiência quase-morte”.

eqm-webDurante a experiência, a luz que incidiu sobre mim era de tal forma forte que era insuportável (uma luz que me “cegou”); e a experiência foi marcada por um certo “transcorrer do tempo”, embora não fosse o “tempo normal” a que eu estava habituado. Depois, ali estava eu, junto ao tecto do quarto, a ver-me a mim próprio na cama com o médico da família à cabeceira, e com a azáfama preocupada da minha mãe. E ouvi todas as conversas; quando voltei a mim, contei as conversas havidas entre o médico e a minha mãe — conversas essas seriam difíceis de reter na memória em estado de quase-coma.

Se eu contasse esta minha experiência ao Anselmo Borges, ele diria que se trataria de uma experiência “subjectiva”, de uma “visão”; e que as figuras do médico, da minha mãe e de mim próprio, não passaram de “visões”, e não de “aparições” — porque o Anselmo Borges foi fortemente influenciado pela Nova Teologia que, por sua vez, foi fortemente influenciada pelo Positivismo que nada mais é do que o “Romantismo da ciência”.


O Padre Gonçalo Portocarrero de Almada cita o papa Bento XVI no que diz respeito ao conceito de “aparição” de Nossa Senhora em Fátima:

« Prossegue Bento XVI, no seu Comentário teológico: “Como dissemos, a «visão interior» não é fantasia” – ao contrário do que o termo ‘visão imaginativa’, usado por D. Carlos Azevedo, na sua entrevista ao Público, no passado dia 21, poderia levar a crer – “mas uma verdadeira e própria maneira de verificação. Fá-lo, porém, com as limitações que lhe são próprias. Se, na visão exterior, já interfere o elemento subjectivo, isto é, não vemos o objecto puro mas este chega-nos através do filtro dos nossos sentidos que têm de operar um processo de tradução; na visão interior, isso é ainda mais claro, sobretudo quando se trata de realidades que por si mesmas ultrapassam o nosso horizonte”. »

Fátima (1): Aparições ou visões?


Em primeiro lugar, não podemos comparar a intelectualidade do papa Bento XVI com o vazio intelectual do papa Chico que o Anselmo Borges segue de forma canina. O Chico age; é um homem de acção, mas não pensa; e quando pensa, só diz asneiras.

Eu já abordei aqui o tema da subjectividade e da objectividade.


O Padre Gonçalo Portocarrero de Almada aproxima-se da minha interpretação da realidade, mas ainda não coincidimos — porque, em última análise (e como ele escreveu acima), todos nós interpretamos a realidade de forma subjectiva, embora seja a intersubjectividade (ou seja, a objectividade) que cria os consensos necessários a uma interpretação racional da realidade prática, segundo leis naturais que regulam o mundo macroscópico em que se movem os seres vivos.

Realidade prática: desde que uma construção do nosso cérebro nos permita a sobrevivência no mundo (macroscópico), pode-se dizer que ela (a construção) está em consonância com a verdadeira realidade e não em contradição com ela. [Este conceito de “realidade prática” é muito importante e pode ser utilizado em diversas áreas do pensamento.]

A investigação das ciências da natureza e a sua aplicação na tecnologia não têm autoridade para fazer afirmações sobre a “realidade em si” (que é diferente da “realidade para nós” que é a realidade intersubjectiva e/ou objectiva): a ciência só pode afirmar, em casos concretos, que as suas afirmações ainda não foram refutadas e, neste sentido poderiam estar em consonância com a “verdadeira realidade”.

Aquilo a que o papa Bento XVI e o Padre Gonçalo Portocarrero de Almada chamam de “visão interior”, é a “visão da consciência” que tem sempre algum grau de intersubjectividade que corresponde ao Nous aristotélico:

“Só vale a pena discutir com pessoas com as quais já estamos de acordo quanto aos pontos fundamentais; só aí se mantém, na pesquisa, a fraternidade essencial; tudo o resto é concorrência, batalha, luta pelo triunfo; não menos reais por serem disfarçados.” (Agostinho da Silva)

Este tipo de igualdade/desigualdade racional de Agostinho da Silva, que diz respeito às ideias, corresponde à noção de Noüs de Aristóteles em que se manifesta um determinado grau de intersubjectividade que distingue a “visão subjectiva”, por um lado, e a “aparição intersubjectiva”, por outro lado.

As ideias do Anselmo Borges e do Bispo gay, segundo a qual “em Fátima aconteceram visões subjectivas, e não aparições”, são tão absurdas que me fazem doer a inteligência — a inteligência também dói, quando nos deparamos com gente deste calibre. E para além de absurdas, as ideias das duas avantesmas supracitadas são perigosas, porque estão imbuídas de um Positivismo radical que se embrenhou no seio da Igreja Católica através do Concílio do Vaticano II.

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