segunda-feira, 15 de maio de 2017

Ela deve estar c'o penso

 

Ela pensa que pensa, quando deve estar com o penso.


Pelo menos desde 1891, com a encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII, que a Igreja Católica faz uma crítica àquilo que se convencionou chamar de “capitalismo selvagem”, que se reduz ao darwinismo social que é aliás, a substância ideológica de um certo tipo de “libertarismo” que caracteriza, por exemplo, Nozick ou Ayn Rand.

Mas recuemos à Idade Média. A Igreja Católica, ou instituições ligadas à Igreja Católica, fundaram em Itália de fins do século XV, a rede de Bancos Monti Di Pietá (que deu origem ao nosso Banco Montepio) para combater a especulação financeira dos judeus que emprestavam dinheiro a juros altíssimos. Reparem bem: os primeiros Bancos do mundo foram fundados pela Igreja Católica do século XV! E já não falamos na actividade bancária dos Templários no século XIII, e dos franciscanos menores do século XII que inventaram o Prémio de Seguro de Risco.

Portanto, a Igreja Católica nunca foi contra o capitalismo; a Igreja Católica era contra o abuso de posição privilegiada de um certo tipo de capitalismo que o católico G. K. Chesterton resumiu assim:

« Quando eu uso o termo capitalismo, eu quero significar o seguinte: “A condição económica na qual existe uma classe de capitalistas, mais ou menos reconhecível e relativamente pequena, em cuja posse está concentrada a maioria do capital e de tal forma que uma larga maioria dos cidadãos servem esses capitalistas em troca de um salário”.

Este estado de coisas, em particular, pode existir e existe mesmo, e devemos ter uma qualquer designação para ele e uma qualquer forma de o discutir. Mas essa palavra (capitalismo) é, sem dúvida, uma má palavra, porque é utilizada no sentido de significar outras realidades diferentes.

Algumas pessoas identificam “capitalismo”, por um lado, com “propriedade privada”, por outro lado. Outras supõem que “capitalismo” significa qualquer coisa que envolva o uso de capital. Mas se este tipo de uso da palavra “capitalismo” é literal, também é demasiado alargado e abrangente. Se o uso do capital é “capitalismo”, então tudo é capitalismo. O bolchevismo é capitalismo e o comunismo anarquista é capitalismo: e todos os esquemas revolucionários, selvagens que sejam, continuam a ser capitalismo. »

→ G.K. Chesterton: "The Outline of Sanity."

ou ainda:

“Too much capitalism does not mean too many capitalists, but too few capitalists.”

→ G. K. Chesterton : 'The Uses of Diversity.'

(Demasiado capitalismo não significa a existência de demasiados capitalistas, mas antes significa a existência de muito poucos capitalistas).

O “capitalismo selvagem”, de que nos falou o Papa João Paulo II e o Papa Bento XVI, é o tipo de capitalismo que tem muito poucos capitalistas — que é o capitalismo defendido pelo Nozick e pelos pseudo-libertários que falam em nome de Von Mises.

O que nós precisamos — e é o que a Igreja Católica sempre defendeu — é um capitalismo com muitos capitalistas, e se possível, um capitalismo que promova, em cada cidadão, um capitalista. Ora, é este tipo de capitalismo do “cidadão capitalista” que os Rothschild, os Rockefeller, e outros globalistas, não querem ver no mundo (por várias razões que não cabem agora aqui).

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O que se passa com o papa Chico é coisa diferente. João Paulo II visitou Cuba para atenuar a perseguição aos católicos por parte do regime comunista, em troca de uma visibilidade internacional de pseudo-tolerância religiosa cubana.

Em contraponto, o Chico tem uma predilecção especial por todos os ditadores de Esquerda da América Latina, por um lado, e, por outro lado, o Chico é contra o capitalismo privado mas é a favor do capitalismo de Estado. Ou seja, o Chico é, no mínimo, socialista (para não dizer comunista).

Chama-se “capitalismo de Estado” ao sistema no qual o Estado é proprietário dos meios de produção. Ora, nunca foi este o tipo de capitalismo (de Estado) defendido pelos Papas João Paulo II e Bento XVI; jamais!

Quando a Maria João Marques está com o penso, pensa que pensa.

4 comentários:

  1. Exactamente. Uma sociedade ultra-capitalista, com meia dúzia de proprietários e o restante da população a trabalhar para eles, seria em muitos aspectos indistinguível de um sistema socialista, com os miliardários a fazerem as vezes da nomenklatura. Não é por acaso que banqueiros e esquerdistas dão se muito bem na maioria dos casos. Compartilham ambos da mesma distopia futura.

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    1. Essa distopia é aquilo a que eu chamo de "sinificação".

      http://sofos.wikidot.com/sinificacao

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  2. Caro Orlando, acha que o rumo que o mercado hoje leva com, por exemplo, as startups e as cripto-moedas (bitcoin) está a resgatar um bocadinho desse espírito 'empreendedorista' de que fala ou existe aqui alguma coisa a trabalhar por trás?

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    1. As chamadas “start-ups” são tubos de ensaio dos “poucos capitalistas”, fazem parte do sistema, e na sua maioria, são financiados pela plutocracia através dos “apoios financeiros aos Estados” por parte da União Europeia. Se uma “start-up” tem sucesso, é comprada por uma multinacional qualquer.

      Quando eu falo em “cidadão-capitalista”, falo do acesso do cidadão à SUA propriedade privada por forma a que ele possa organizar a sua subsistência. Para ilustrar melhor o que eu quero dizer, voltemos a G. K. Chesterton:

      «

      Um homem honesto apaixona-se por uma mulher honesta; ele quer, por isso, casar-se com ela, ser o pai dos seus filhos, e ser a segurança da família.

      Todos os sistemas de governo devem ser testados no sentido de se saber se ele pode conseguir este objectivo. Se um determinado sistema — seja feudal, servil, ou bárbaro — lhe dá, de facto, a possibilidade da sua porção de terra para que ele a possa trabalhar, então esse sistema transporta em si próprio a essência da liberdade e da justiça.

      Se qualquer sistema — republicano, mercantil, ou eugenista — lhe dá um salário tão pequeno que ele não consiga o seu objectivo, então transporta consigo a essência de uma tirania eterna e vergonha.
      »
      G. K. Chesterton, “Illustrated London News”, Março de 1911.

      A “porção de terra”, aqui, é uma metáfora: é a propriedade privada, que pode ser a propriedade de uma micro-empresa, por exemplo.

      Segundo G. K. Chesterton, por exemplo, um regime dito “fascista” que dê ao cidadão essa propriedade privada, é mais justo do que uma democracia que retira ao cidadão a possibilidade da propriedade privada que é a condição da criação da sua família ( que é o que está a acontecer em Portugal e na Europa: “democracias anti-família”).

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