“O tonto consegue captar o subtil, mas não vê o óbvio.” — Nicolás Gómez Dávila
Este postal do Domingos Faria é o exemplo de como as “Humanidades” chegaram a um ponto de tal decadência que podemos dizer que já não existem.
« Um dos paradoxos mais interessantes em lógica epistémica é o paradoxo da cognoscibilidade. Esse paradoxo resulta da prova de Frederic Fitch (1963) de acordo com a qual um princípio aparentemente modesto da cognoscibilidade (PC), de que cada verdade é em princípio conhecível, implica uma alegação absurda de que somos omniscientes (O), de que de facto sabemos todas as verdades. Ou seja, o paradoxo da cognoscibilidade mostra que se segue da afirmação de que “todas as verdades são cognoscíveis”, que todas as verdades são conhecidas”. »
Mais adiante:
“Para escapar a essa conclusão absurda em vez de se negar ¬O pode-se negar PC, defendendo-se que não é o caso que todas as verdades sejam cognoscíveis ou possíveis de conhecer. Um dos problemas é que o Cristão tradicional em princípio não poderá enveredar por essa manobra, tal como defendido por Jonathan Kvanvig (2010), dado que entra em conflito com a doutrina da encarnação.”
→ ibidem
Em primeiro lugar, devemos saber o que significa “verdade”, neste contexto: “verdade” é a verdade positivista, ou seja, a verdade da ciência clássica segundo a qual as propriedades e o comportamento das partes determinam o comportamento do todo.
Dentro deste conceito de “verdade”, o Princípio da Cognoscibilidade é absurdo:
“As nossas teorias científicas, por melhor comprovadas e fundamentadas que sejam, não passam de conjecturas, de hipóteses bem sucedidas, e estão condenadas a permanecerem para sempre conjecturas ou hipóteses.”
→ Karl Popper, em conferência proferida em 8 de Junho de 1979 no Salão Nobre da Universidade de Frankfurt , por ocasião da atribuição do grau de Doctor Honoris Causa.
O absurdo foi inventado de uma vez para sempre; mas as ideias absurdas, como por exemplo o Princípio da Cognoscibilidade, são inventadas a cada época. Karl Popper concluiu que “cada verdade (científica) não é, em princípio, cognoscível”; e só um burro (como o Frederic Fitch) pensaria o contrário disso.
Mas se a “verdade” da ciência clássica implica que as propriedades e o comportamento das partes determinam o comportamento do todo, na “verdade” da física quântica passa-se precisamente o contrário: é a totalidade que determina o comportamento das partes. Portanto, temos aqui dois conceitos diferentes de “verdade”; mas o Domingos Faria misturou tudo no mesmo saco.
O holismo significa a visão da totalidade de um sistema. As partes estão, em certo sentido, em contacto com a totalidade. Se tudo aquilo que, no Big Bang esteve numa acção recíproca, permanece ligado, então todas as partículas elementares em todas as estrelas e em todas as galáxias “sabem” da existência de todas as restantes partículas elementares.
Assim, os componentes da matéria não devem ser vistos como unidades isoladas, mas sim como partes integradas na totalidade do universo. Naturalmente que o Domingos Faria deve pensar que eu sou maluco; por isso vamos ver o que o maluco Niels Bohr, que foi Nobel da Física, escreveu:
“O Universo pode assumir a organização dos seus componentes (…) porque a totalidade, por princípio, é constituída de tal modo que organiza as partes... Tudo está ligado entre si através de conjunções invisíveis”.
O holismo quântico também é uma “teoria humana” que se enquadra na citação supra de Karl Popper; mas pelo menos tem a virtude de conceber a “verdade” de um modo totalmente diferente da “verdade” da ciência clássica — porque não é, por si, evidente que possamos extrair convenientemente objectos da totalidade do mundo (conforme o conceito de “verdade positivista” do burro Fitch): esta extracção implica sempre um erro, visto que, na realidade, tudo está ligado com tudo.
Em 1982, Alain Aspect, da universidade de Paris, preparou uma experiência na qual um fotão (uma partícula elementar de onda luminosa), após a sua saída de uma fonte central, tinha a possibilidade de se afastar desta fonte cerca de seis metros antes de ser conduzido através de uma espécie de eclusa da luz.
Este aparelho, semelhante a um comutador basculante, conduziu o fotão num dos dois sentidos possíveis. O fotão deparou-se, em ambos os percursos, com um filtro de polarização. Aspect utilizou um truque para obrigar os fotões a revelar se se comunicam, de facto, entre si, e em que medida se realizam contactos deste tipo.
As eclusas foram concebidas de moda a mudarem periodicamente de sentido cerca de 100 milhões de vezes por segundo. Deste modo, o percurso definitivo dos fotões foi determinado acidentalmente.
Por conseguinte, um fotão não podia “saber” de antemão em que sentido se iria mover: só podia conhecer o seu percurso definitivo depois da passagem através de um dos filtros. No entanto, naquele momento, já era demasiado tarde para o respectivo fotão informar ainda o parceiro em movimento no sentido oposto sobre aquilo que lhe tinha acontecido — porque Aspect providenciou para que, nesse momento, os fotões estivessem tão afastados entre si que não houvesse tempo para a comunicação com o parceiro, nem sequer para um estabelecimento de contacto à velocidade da luz.
Alain Aspect fez uma descoberta surpreendente. Os fotões eram capazes de comunicar entre si e de informar o outro fotão sobre o filtro por onde tinham acabado de ser conduzidos.
Portanto, parecia que as partículas elementares são, de facto, capazes de comunicar entre si a uma velocidade superior à velocidade da luz — o que destruiu parcialmente a teoria de Einstein. As partículas elementares permanecem partes de um único sistema que reage, na sua totalidade, às acções recíprocas seguintes.
Na prática, tudo aquilo que podemos ver e tocar é constituído pela acumulação de partículas elementares que se encontraram, alguma vez, em uma acção recíproca com outras partículas elementares, até ao Big Bang, com o qual surgiu o universo. Os átomos no meu corpo são constituídos por partículas elementares que já estiveram concentradas no aerólito cósmico, juntamente com outras partículas elementares que são agora componentes de uma estrela afastada ou de um outro corpo humano.
A experiência de Alain Aspect teve o condão de demonstrar como leis que são válidas para aspectos físicos parciais (a “verdade cognoscível” do burro Fitch) foram anuladas num determinado ponto. Porém, o saber como a totalidade organiza estes aspectos parciais escapa ao nosso conhecimento positivista, dado que não podemos forçar a totalidade do universo a entrar dentro de uma experiência de laboratório (do Fitch).
A ideia segundo a qual “todos os seres humanos penetram nas 'verdades holísticas' da mesma forma”, é outro absurdo, porque parte do princípio de que o ser humano é uma espécie de autómato fabricado em série. É neste sentido que não existe nenhuma contradição entre Jesus Cristo, por um lado, e o conhecimento da verdade holística, por outro lado — verdade esta que não é a verdade positivista da ciência clássica a que se refere o Fitch.
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