O Anselmo Borges faz lembrar um ministro de um governo do Partido Socialista que, quando houve uma Manif de protesto à porta do seu ministério, veio para a rua e juntou-se aos manifestantes. E quando acabou a Manif contra a sua própria política, voltou para o ministério.
A contemporaneidade é caracterizada por uma determinada esquizofrenia política, de que podemos constatar também no Anselmo Borges que, por um lado, defende ideias da esquerda hegeliana (de que faz parte o Habermas), estendendo-as mesmo ao âmago do Cristianismo; mas, por outro lado, critica as consequências (políticas e culturais) das ideias da Esquerda hegeliana na nossa sociedade.
Eu não sou nada “Habermas”; sou mais “Karl Popper” (e mais ainda sou “Alasdair MacIntyre” e “Charles Taylor”). E, como se sabe, os dois nunca se deram bem.
Para quem não está familiarizado com a esquizofrenia política do Anselmo Borges:
Jürgen Habermas foi assistente (universitário) de Adorno, e é o continuador da Teoria Crítica da Escola de Francoforte (marxismo cultural).
A Teoria Crítica coloca em causa, por exemplo, o Iluminismo (a Teoria Crítica é uma teoria anti-científica, e por isso é que Habermas “andou de candeias às avessas” com Karl Popper), tem a sua raiz nas doutrinas de Adorno, de Horkheimer, assim como na actividade de Habermas no Instituto de Investigação Social da Universidade de Francoforte.
Por isso é que o Anselmo Borges cita o Jürgen Habermas: fazem parte da mesma equipa que corrói a sociedade e a cultura europeias.
A crítica que o Jürgen Habermas faz às redes sociais (crítica essa com que o Anselmo Borges parece concordar, através do seu — dele — texto) é apenas a continuação ideológica do livro de Habermas “Técnica e Ciência como Ideologia”, publicado em 1963, e que nada mais é do que uma actualização ideológica da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt : Habermas critica, critica, critica, tal qual uma picareta falante, mas a solução que apresenta é um igualitarismo politicamente correcto (marxismo cultural. Não se trata da defesa de “igualdade de oportunidades”: trata-se da defesa de uma “igualdade dos sucessos”).
Jürgen Habermas defendeu a chamada “ética discursiva” (marxismo cultural ) que levou a sociedade ao descalabro cultural actual. E o Anselmo Borges critica o descalabro cultural actual e, simultaneamente, faz a apologética de Jürgen Habermas. É aqui que reside a esquizofrenia ideológica do Anselmo Borges. A “ética discursiva”, de Habermas, implica uma “moral de negociação provisória”, em que os valores da ética são sistematicamente colocados em causa e implica uma incerteza permanente das normas morais. É isto que o Anselmo Borges defende quando faz a apologia do Habermas.
“Sem a educação, encontramo-nos no horrível e mortal perigo de levar a sério as pessoas educadas.”
— G. K. Chesterton (“The Illustrated London News”).
Há dias, vi na televisão o Miguel Sousa Tavares a criticar as redes sociais (FaceBook, Twitter, etc.), fazendo alarde orgulhoso do facto de não ter conta aberta no FaceBook ou em qualquer outra rede social. A posição do Anselmo Borges insere-se na mesma linha ideológica da do Miguel Sousa Tavares. Trata-se de gente que está a perder o poder fáctico, e isso incomoda-a. De resto, não existem hoje mais analfabetos do que os que existiam em 1963, ano em que Habermas publicou o livro supracitado.
O que incomoda o Anselmo Borges e o Miguel Sousa Tavares — entre outros mentecaptos dotados de um alvará de inteligência — é que os cidadãos actuais, em geral, já não confiam nas “elites” como acontecia não vai ainda muito tempo. Ou, parafraseando Chesterton, já não levamos a sério as “elites” ditas “educadas”. O Anselmo Borges e o Miguel Sousa Tavares defendem a existência de uma classe de uma espécie de “gnósticos” — “classe” que se distingue do conceito de “escol”, de Fernando Pessoa (o escol não quer dizer uma classe, mas antes é uma série de indivíduos). E por isso é que ambos criticam o “achismo” do povão (que horrível cheiro a povo!).
A verdade é que — e aqui concordo com Karl Popper —, ao longo da História, os povos estiveram mais vezes certos (com a razão) do que as elites. Ou seja, historicamente as elites erraram mais vezes do que a opinião emanada das massas populares.
Maioritariamente, e por instinto ou por intuição, o povo português não concorda com a legalização da eutanásia; e, implicitamente, também não concorda que o “modelo discursivo” de Jürgen Habermas (que o Anselmo Borges tanto aprecia) sirva para que o Partido Socialista e o Bloco de Esquerda legalizem a eutanásia.
Por isto é que não se percebe por que razão o Anselmo Borges defende a “ética discursiva” de Jürgen Habermas ao mesmo tempo que se coloca contra a eutanásia defendida pelos seus (do Anselmo Borges) próprios correligionários ideológicos.
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