domingo, 21 de julho de 2019

A escatologia do Anselmo Borges, ou a revolução antropocêntrica do papa gnóstico


Há, no discurso do Anselmo Borges, algo de “escatológico” — entendido no sentido biológico. É um discurso bio-degradado; mas é também “escatológico” no sentido metafísico: um discurso característico dos fins-dos-tempos.


Se juntarmos a excrescência humana do “dogma antidogmático” 1  — quem silenciosamente repudia os dogmas da Igreja Católica (como é o caso do Chico e dos seus sequazes), tem que escolher entre indiferentismo e hierarquia; e é esta a verdadeira “tensão” dos gnósticos que comandam a actual Igreja Católica, que o Anselmo Borges escamoteia — , por um lado, à crença metafísica da centralidade do Homem no universo 2 (o antropocentrismo do papa Chicozinho) , por outro lado, obtermos a escatologia do Anselmo Borges.


Dizia Aristóteles que quando partimos de princípios errados, toda a nossa teoria está errada. É o caso do Anselmo Borges:


« A Igreja tem dentro dela, inevitavelmente, uma tensão que a conduz a um paradoxo. Esta tensão e este paradoxo foram descritos de modo penetrante, preciso e límpido pelo sociólogo Olivier Robineau, nestes termos: "A Igreja Católica é uma junção paradoxal de dois elementos opostos por natureza: uma convicção - o descentramento segundo o amor - e um chefe supremo dirigindo uma instituição hierárquica e centralizada segundo um direito unificador, o direito canónico. De um lado, a crença no invisível Deus-Amor; do outro, um aparelho político e jurídico à procura de visibilidade. O Deus do descentramento dos corações que caminha ao lado de uma máquina dogmática centralizadora. O discurso que enaltece uma alteridade gratuita coexiste com o controlo social das almas da civilização paroquial - de que a confissão é o arquétipo - colocado sob a autoridade do Papa. Numa palavra, a antropologia católica tenta associar os extremos: a graça abundante e o cálculo estratégico. Isso dá lugar tanto a São Francisco de Assis como a Torquemada." »


1/ Desde logo, está errado o princípio do Anselmo Borges segundo o qual a “tensão existencial ” é um fenómeno exclusivo da Igreja Católica — como fica explícito na escatologia do Anselmo Borges.


O que verificamos naquele trecho do Anselmo Borges é uma tentativa de justificar a separação dos pólos da experiência (existencial) — considerando os pólos da experiência como sendo entidades (objectos) independentes (neste caso, a fé, por um lado, e a Igreja enquanto organização humana, por outro lado) entre si.


A separação dos pólos da experiência (considerando-os como entidades independentes um do outro) significa a destruição da Realidade da existência enquanto tal; é uma forma de libertação revolucionária em relação à Metaxia que tem como consequência grave, entre outras, a mutilação do papel da ética no pensamento (relativismo).


A tentativa gnóstica (ou neognóstica, ou revolucionária; vai dar no mesmo) de libertação do humano em relação à existência metáxica (segundo Platão, a Metaxia é a condição dialéctica da existência do ser humano) tem como resultado a ideia absurda segundo a qual a Ordem do Ser pode ser mudada através de um processo histórico, por um lado, e por outro lado, que a mudança do Ser depende da política — é isto exactamente que está presente no ideário do papa Chicozinho e dos seus sequazes, incluindo o Anselmo Borges.


A “tensão” da Igreja Católica, a que se refere escatologicamente o Anselmo Borges, é característica própria da Realidade da existência — e não apenas uma característica da Igreja Católica. Essa tensão metáxica está presente em todos os seres humanos na relação que têm com qualquer  organização social.


2/ A contraposição que o Anselmo Borges faz entre a consciência (a fé), por um lado, e a história dos acontecimentos mundanos (neste caso, a organização da Igreja), por outro lado, consiste em uma uma falsa dicotomia — porque o encontro da consciência humana (a fé) com a transcendência não ocorre na história dos acontecimentos mundanos (na organização social), mas antes ocorre no processo interno da experiência da consciência humana.


O conceito neognóstico de libertação do ser humano em relação à existência metáxica através da tentativa da eliminação da “tensão” existencial que, alegadamente, conduziria (segundo a teoria gnóstica do Chico e seus sequazes) à “salvação em relação ao mal” (à construção de um paraíso na Terra) através de um processo histórico e político — é uma fraude intelectual e uma aberração ética.


papa-açorda


Notas

1. O dogma da bondade natural do Homem (Rousseau) formula, em termos éticos, a experiência central do papa gnóstico: o Homem é naturalmente bom porque é naturalmente deus (imanência e monismo).


2. A
experimentação não refuta nem confirma axiomas matemáticos ou dogmas religiosos. Racionalizar o dogma católico, abrandar a moral, simplificar o rito, não facilita a aproximação do crente, mas sim facilita a aproximação em relação ao incréu.

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