quinta-feira, 18 de julho de 2019

Com “liberais” como o Pedro Picoito, ¿para que precisamos da Catarina Martins?!


Durante as décadas de 1960 e 1970, o cidadão português (emigrante) era conhecido genericamente na Europa do norte por “ladrão de bicicletas” (principalmente na Holanda, Bélgica e França).

ladrao-de-bicicleta-webHoje, já ninguém na Europa utiliza este epíteto em relação ao português imigrante — não só porque a cultura do português médio mudou (hoje, o tuga já não rouba bicicletas), mas também porque o tuga médio já não anda de bicicleta (prefere o automóvel).

¿O epíteto de “ladrão de bicicletas”, quando aplicado ao tuga naquelas duas décadas, tinha alguma razão de ser? Claro que sim! Quando saía uma notícia no jornal sobre um roubo de uma bicicleta, em grande parte dos casos vinha-se a descobrir que o ladrão era um imigrante português.

Se o Pedro Picoito fosse um adulto durante aquelas duas décadas, escreveria certamente o seguinte:

« Trata-se de um argumento falacioso e pouco liberal. É a generalização sobre os imigrantes portugueses, que a leva a cair na velha armadilha ideológica do determinismo. Dizer que os “portugueses são ladrões de bicicletas” não é apenas uma caricatura de mau gosto. É condenar à suspeita todos os portugueses que procuram integrar-se na sociedade da Europa do norte, apesar dos obstáculos que enfrentam, apesar dos preconceitos de que são alvo. É negar a individualidade a um número vasto de pessoas em nome da sua origem étnica ou cultural. É, em suma, desprezar a meritocracia e a igualdade. »

Porém, a verdade é que uma grande parte dos casos de roubos de bicicletas (por exemplo, na Bélgica) era (naquela época, e a julgar pelas notícias dos jornais) empiricamente (experiência) associado a imigrantes portugueses.

Ora, é esta verdade empírica acerca dos factos sociológicos e culturais (que são sempre circunstanciais e circunscritos a um determinado Zeitgeist) que o politicamente correcto (ou Pedro Picoito, o que vai dar no mesmo) pretende esconder ou escamotear.

O facto (verificado) de terem existido muitos Tugas “ladrões de bicicletas”, na Bélgica e nas décadas de 1960 e 1970, não significa necessariamente que tenha existido, em relação aos Tugas, “a velha armadilha ideológica do determinismo”. O que existiu, na Bélgica (por exemplo), foi a estigmatização do comportamento de roubo de bicicletas, e que por causa do alto nível de incidências calhou maioritariamente aos Tugas que roubavam bicicletas.

Ora, parece que tanto o Bloco de Esquerda como o Pedro Picoito não concordam com a estigmatização de um determinado comportamento socialmente indesejável ditado por uma qualquer cultura antropológica.

Neste aspecto (no politicamente correcto), o Pedro Picoito e a Catarina Martins estão de acordo. É neste sentido que se diz por aí que  “os liberais portugueses são a 'Direitinha' educadinha” (andam a “toque de caixa” da Esquerda radical).



Ler o texto do Pedro Picoito (também em PDF aqui).



Uma das características do discurso do Pedro Picoito (e do politicamente correcto, e da Esquerda em geral) é a perda na noção cultural de “juízo universal ”.

Até há pouco tempo, a noção de “juízo universal” pertencia ao senso comum.

Por exemplo quando eu digo hoje que os homens correm mais rápido do que as mulheres”, aparece sempre um Pedro Picoito qualquer a dizer que “você está errado, porque eu conheço uma mulher que corre mais rápido do que homens!”.

Hoje, o nominalismo radical instalou-se na cultura da “elite”, e de tal forma que o juízo universal deixou de pertencer ao senso comum. Hoje, a “elite” tende a ser a-científica.

Estamos perante a estupidificação da cultura (o “imbecil colectivo”) realizada em nome de um certo elitismo cultural e intelectual.

Portanto, o argumento do Pedro Picoito da “velha armadilha ideológica do determinismo”, é falacioso; não cola.

O “determinismo” só existe (no caso da estigmatização de um comportamento indesejável) enquanto um determinado comportamento associado empiricamente a uma certa cultura é prevalecente e/ou notório: mas trata-se de um “determinismo provisório”, e portanto, não é um “determinismo” propriamente dito.

Podemos verificar, através do texto do Pedro Picoito, como existe um continuum consensual entre a mentalidade e mundividência do referido “liberal”, por um lado, e a mentalidade e a mundividência da Catarina Martins ou do Francisco Louçã, por outro lado.

Com “liberais” destes, ¿para que precisamos da Catarina Martins?!

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