Ao contrário da literatura, que apenas interessa à pessoa particularizada (interessa ao indivíduo, enquanto tal, que lê a obra literária), a ciência interessa a todos, em geral (e não só ao indivíduo isolado). Ou seja: por definição, a ciência (refiro-me concretamente às Ciências da Natureza) tem, por finalidade, o interesse do colectivo humano.
Em todas as Ciências da Natureza, a epistemologia [epistemologia = estudo filosófico da evolução histórica de uma ciência em particular] é essencial para o seu desenvolvimento; e nesse sentido, podemos dizer que a filosofia (por exemplo, a filosofia da ciência) e a História são factores epistemológicos essenciais para as Ciências da Natureza. Mas isto não significa que a filosofia e a História façam parte das Ciências da Natureza!
Já não é a primeira vez que a Raquel Varela confunde “ciências humanas e sociais” com “Ciências da Natureza”, e com “ciências exactas” — por exemplo, quando ela escreveu que “a diferença entre ciências sociais” (por exemplo, a História), por um lado, “e ciências exactas” (por exemplo, a matemática), “é fictícia”.
As “ciências humanas e/ou sociais”, não são apenas ciências inexactas; são essencialmente ciências do inexacto.
Nas Ciências da Natureza, onde impera o princípio da falsificabilidade, apenas se arquivam os erros do passado; nas ciências sociais, onde impera a moda, os acertos também são arquivados à medida em que a moda “passa de moda”.
As ciências sociais (ou humanas) cristalizam-se em um sistema simplicíssimo, e não fluem através da História (ao contrário do que acontece com as Ciências da Natureza).
Nas Ciências da Natureza, uma pessoa que compreendeu uma determinada noção, compreendeu tudo o que é possível compreender acerca dessa noção; nas ciências ditas “humanas e sociais”, uma pessoa que compreendeu uma determinada noção, apenas compreendeu o que ela pôde (pessoalmente) compreender — nas ciências sociais e humanas, a inteligência (do indivíduo) é o único método que nos protege do erro; mas o problema é que muitos “cientistas sociais” são burros que nem portas!
No sítio americano da C.D.C, “epidemiologia” é definida assim:
“By definition, epidemiology is the study (scientific, systematic, and data-driven) of the distribution (frequency, pattern) and determinants (causes, risk factors) of health-related states and events (not just diseases) in specified populations (neighborhood, school, city, state, country, global). It is also the application of this study to the control of health problems”.
A Raquel Varela escreveu o seguinte:
“Penso que 1 ano e meio depois ainda muitos não sabem que a epidemiologia não é uma ciência médica, muito menos matemática, certamente nunca uma ciência computacional. Tanto que a Associação Portuguesa de Epidemiologia tem no seu primeiro objectivo é, cito, “Estimular a abordagem multi-sectorial e interdisciplinar dos assuntos de âmbito epidemiológico”, ou seja, vários dos seus membros são das ciências sociais.”
Quando o conceito de “epidemiologia” se afasta das Ciências da Natureza (como defende a Raquel Varela), entra pela ideologia política adentro.
Epidemiologia é uma ciência da natureza que, como todas as ciências da natureza, conta com o apoio epistemológico da filosofia e da História. A ciência natural baseia-se sempre no passado (na experimentação, que pertence obviamente ao passado, e não apenas na experiência), e, por isso, a História e a filosofia são essenciais para o seu desenvolvimento.