domingo, 3 de agosto de 2025

Henrique Raposo, um porco

Aqui no norte, a pior classificação ontológica que podemos atribuir a alguém é a de “porco” — já que “filho-de-puta”, por exemplo, é uma categorização corriqueira e de tal forma vulgarizada que se pode aplicar ao próprio que a utiliza; mas “porco” é epíteto ominoso; e pior do que “porco” é “grande porco” que corresponde ao estatuto ontológico do patrão do porco Henrique Raposo.



Comparar cerca de 5 mil nómadas digitais (no máximo) residentes em Portugal, por um lado, com cerca de 1 milhão de imigrantes ilegais, desqualificados e sem especialização (1 milhão no mínimo, porque há quem diga que são mais), por outro lado, só pode vir de um porco, sancionado por um grande porco.


Durante o século XVIII e todo o século XIX, principalmente, estabeleceu-se na cidade do Porto uma pequena comunidade inglesa que se dedicava principalmente à produção, armazenamento e comércio do vinho do Porto. Era uma comunidade que “vivia à margem — no sentido em que o porco Henrique Raposo classificou os nómadas digitais.

Os ingleses no Porto deram uma grande visibilidade internacional à cidade e a Portugal; porém, à comunidade inglesa foram concedidos alguns privilégios por parte do Poder político português, como, por exemplo, a possibilidade de os ingleses residentes elegerem um Juiz Conservador, pago pela Feitoria inglesa, que actuava como árbitro nas questões e disputas da comunidade inglesa. Ou seja, os ingleses tinham até uma justiça civil “à margem”. Este Juiz Conservador da Feitoria inglesa só desapareceu em 1848, por decreto do governo de Lisboa, mas manteve a presença de cidadãos ingleses no tribunal de júri.

Devemos julgar as pessoas pela sua produtividade e pela sua contribuição para o bem-comum: não devemos nivelar por baixo, como faz o porco Henrique Raposo apoiado pelo grande porco que é o patrão dele.

A prática da medicina deu um salto qualitativo com a presença da Feitoria inglesa no Porto, nomeadamente através da construção de um hospital inglês gerido com fundos privados, funcionando com as melhores práticas científicas da Europa de antanho, e que se colocou ao serviço da população portuense em geral, no tratamento das maleitas mais difíceis e complicadas. Médicos ingleses especializados, como por exemplo o dr Henry Jebb, foram cruciais no desenvolvimento da prática médica na cidade.

O escritor Júlio Dinis, que era médico e descendente de ingleses, escreveu, entre muitas outras, uma obra intitulada “Uma Família Inglesa”. O escritor Ramalho Ortigão que escreveu a obra “John Bull”, na “Epístola a Mister John Bull”, e nas “Farpas”, fala da comunidade inglesa no Porto.

O escritor Camilo Castelo Branco nunca escreveria a sua excelente obra sem a inspiração e presença da pequena comunidade inglesa no Porto. Tanto Camilo como Almeida Garrett abordaram a temática da comunidade inglesa no Porto, embora fossem ambos anti-britânicos.

Durante as invasões napoleónicas, a comunidade inglesa foi essencial, nomeadamente financiando o governador militar da cidade do Porto, o General Nicholas Trant (também este, inglês).

A Associação Comercial do Porto foi fundada pela Feitoria inglesa; o Banco Comercial do Porto, idem; a Companhia de Seguros Segurança foi uma das primeiras companhias de seguros do Porto, também fundada pelos ingleses.

Nos seus tempos livres, os ingleses dedicavam-se às artes, em especial à música, frequentavam as Óperas da cidade. No Verão, participavam em convívios informais depois do jantar, bem como em bailes e jantares mais formais. Os ingleses foram os pioneiros das excursões de barco no rio Douro.

Os ingleses criaram o Cricket and Lawn Tennis Club, o Oporto Boat Club, o Oporto Golf Club, o Sailor's Rest — e a Oporto British School que só podia ser frequentada por jovens com mais de seis anos filhos de pais britânicos, que também aprendiam a língua portuguesa. Se este exclusivismo acontecesse hoje, o porco Henrique Raposo tinha um chelique.

Esta pequena comunidade de ingleses na cidade do Porto foi de extrema importância para a internacionalização da economia local e nacional — por exemplo, fundando a filial portuense do London and Brazilian Bank Ltd e do Bank of London and South América. O barão Joseph James Forrester (que tem nome de rua na cidade) foi um dos grandes dinamizadores da economia do Porto.


Devemos julgar as pessoas pela sua produtividade e pela sua contribuição para o bem-comum: não devemos nivelar por baixo, como faz o porco Henrique Raposo apoiado pelo grande porco que é o patrão dele.

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