Talvez a maioria das pessoas que leu a “notícia” no semanário SOL, acreditou realmente que aquele cão “conheceu” Nova Iorque. Um dia destes poderemos ler uma “notícia” no SOL: “Professor universitário leva o seu gato à biblioteca para conhecer a obra de Jean-Paul Sartre”.
Para além da autoconsciência — que um animal não tem —, o ser humano distingue-se dos outros animais pela linguagem humana que lhe permite realmente “conhecer”. A linguagem humana tem as seguintes características fundamentais:
1/ expressão (que os animais também têm, de algum modo);
2/ comunicação (que os animais também têm, de algum modo);
3/ a função representativa, que os animais não têm (e que S. Tomás de Aquino já tinha identificado muito antes de Karl Bühler), que é a possibilidade de descrição (interpretação) de um estado de coisas objectivo que pode ou não corresponder aos factos — ou seja, a possibilidade humana de laborar em proposições (teorias) verdadeiras ou falsas.
4/ a função argumentativa (ou função crítica) que os animais não têm — que permite ao ser humano a verificação da veracidade ou falsidade das suas interpretações e/ou teorias.
Um cão pode adquirir, com o tempo, um sentido de orientação que lhe permita vaguear pelas ruas da cidade de Nova Iorque. Mas isso não significa que o cão “conheça” Nova Iorque melhor do que uma ave migratória “conhece” as rotas sazonais de migração — porque “conhecer” é “valorizar” por intermédio da função crítica da linguagem que um cão não possui.
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