Para os neoliberais, o Estado é fiável quando lhes interessa: quando é conveniente, pode-se confiar no Estado; quando não é conveniente, o Estado é o diabo.
A coisa funciona assim: o Estado fornece estatísticas à OCDE; e depois essas estatísticas são utilizadas, pelos neoliberais assim como pelos marxistas (les bons esprits se rencontrent …) para a guerra ideológica. A diferença é que os marxistas são coerentes: não diabolizam o Estado.
Fazer um juízo de valor acerca da situação concreta de um cidadão — ou de um conjunto de cidadãos — através de estatísticas fornecidas pelo Estado só pode vir de um estúpido.
Uma coisa é um estudo científico — que, mesmo assim, pode falhar o espelho da realidade — realizado por uma entidade ou instituição científica independente da sociedade civil (por exemplo, uma universidade); outra coisa, bem diferente, é uma estatística tutelada e financiada pelo Estado. O Estado não é politicamente neutro, e por isso as estatísticas fornecidas pelo Estado estão, à partida, imbuídas de uma qualquer ideologia política.
Vejam, por exemplo, a falácia do neoliberal de serviço, no ponto 5 do relambório:
“Portugal é o segundo país da OCDE em que a percentagem de gastos da educação dedicados a salários é maior.”
Isto significa o seguinte: se, por absurdo, o Estado português tivesse orçamentado 100 Euros, no total e por ano, em gastos para a Educação, e o salário do professor fosse de 1 Euro mensal, seguir-se-ia que o Estado português teria um super-défice com um sistema de educação e seria, de longe, “o primeiro da OCDE em que a percentagem de gastos da educação dedicados a salários é maior”.
Mas aquela gentalha escreve aquilo com “ares” de intelectual.
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