sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

O actual poder político (de Passos Coelho) conhece o futuro

 

“Colocar novos contra velhos, empregados contra desempregados, trabalhadores privados contra funcionários públicos, reformados da Segurança Social contra pensionistas da CGA, sindicalizados contra “trabalhadores”, grevistas contra a “população”, e muitas outras variantes das mesmas dicotomias, tem tido um papel central no discurso governamental, que encontra na “equidade” um dos mais fortes elementos de legitimação.

Se se parar para pensar, fora dos quadros das “evidências” interessadas, verifica-se até que ponto uma espécie de neomalthusianismo grosseiro reduz todas estas dicotomias a inevitabilidades a projecções sobre o “futuro” muito simplistas e reducionistas e que recusam muitos outros factores que deviam entrar na avaliação dessa coisa mais que improvável que é o “futuro”.

À substituição da política em democracia, com o seu complexo processo de expectativas e avaliações, traduzidas pelo voto, ameaçando, como dizem os “ajustadores”, pela “politiquice”, ou seja, as eleições, a “sustentabilidade” das soluções perfeitas de 15 ou 20 anos de “austeridade”, soma-se a completa falta de pensamento sobre o modo como as sociedades funcionam, que o “economês”, que é má economia, não compreende.”

--- 2014, O COMBATE PELAS PALAVRAS

Passos Coelho (e os seus acólitos) é tão revolucionário quanto é um qualquer radical primário porque pretende submeter o real ao racional, como se o universo inteiro pudesse caber dentro de um laboratório. Para ele, é a realidade que se tem que submeter à ideologia, e não as ideias que têm que se submeter ao real.

Não se trata de empirismo, em que os factos são analisados cientificamente (sem qualquer consideração a priori), mas antes de uma forma de pensamento circular, em que as premissas do raciocínio são as que permitam chegar às conclusões que se pretendiam antecipadamente, e por forma a que toda a sociedade possa caber dentro de uma folha de Excel. É uma espécie de Pragmatismo, em que a acção se justifica eticamente pelo desejo subjectivo.

A certeza do futuro é a cereja no topo do bolo passista e uma das características da mente revolucionária do actual poder 1 : um determinado futuro é uma certeza e o passado pode ser mudado (desconstrução).

Outra característica da mente revolucionária é a inversão dos valores da ética e da moral:

Em função da crença num futuro dado como certo e determinado, em direcção ao qual a sociedade caminha sem qualquer possibilidade de desvio, a mente revolucionária passista acredita que esse futuro inexorável será isento dos erros do passado. Por isso, em função desse futuro certo e dado como adquirido, todos os meios utilizados para o atingir estão, à partida, justificados. Trata-se de uma ética teleológica: os fins justificam todos os meios possíveis.

E, finalmente a inversão do sujeito e do objecto: a culpa dos actos de punição austeritária é das próprias vítimas (os reformados, por exemplo), porque estas não compreenderam as noções revolucionárias que levariam ao inexorável futuro perfeito e destituído dos erros do passado. A culpa dos cortes nas pensões de reforma é dos próprios reformados, e Passos Coelho é apenas um executor providencial da construção desse futuro do “melhor Portugal que está para vir”.

Nota
1. segundo Olavo de Carvalho

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