sábado, 18 de janeiro de 2014

Os liberais deveriam saber mais acerca de liberalismo

 

O Rui A., do blogue Blasfémias, coloca uma dupla pergunta, a propósito do referendo à adopção de crianças por pares de invertidos:

“No fim de contas, há duas perguntas a merecerem resposta: como é que a sociedade portuguesa do nosso tempo valora a família e quem tem legitimidade para responder a essa questão?”

Platão resumiu estas duas perguntas numa só: “Quem deve governar?

E, em resposta a esta pergunta, Platão escreveu a “República”, onde, pela primeira vez na História, é defendida (por ele) a criação de campos de concentração para dissidentes políticos. Portanto, é óbvio que a pergunta está mal colocada, porque suscita respostas autoritaristas 1. Em vez de ¿quem deve governar?, deveríamos perguntar: “Que poderes devem ser concedidos ao governo?” Ou, como pergunta Karl Popper:

“¿Que podemos nós fazer para estabelecermos as nossas instituições políticas de tal sorte que os governantes maus ou incapazes (que naturalmente procuramos evitar, mas que apesar de tudo podem surgir) causem o mínimo possível de danos?”

Karl Popper responde a esta pergunta: a prática da democracia. Ora, o referendo é uma ferramenta da democracia.

O liberalismo (desde Kant) separa o “justo”, por um lado, do “bem”, por outro lado. Não vou agora discutir se essa separação é racional: vou raciocinar como um liberal que não sou.

O que interessa saber é o seguinte: se não há uma ideia clara do “justo”, uma vez que a adopção implica uma terceira pessoa (a criança) exterior à relação homossexual, ou seja, se há dúvidas acerca do “justo” (no liberalismo, independentemente do conceito privado do “bem”, temos o conceito universal do “justo”), então só a consulta ao povo (a democracia, neste caso, o referendo) pode resolver o problema de ¿quem deve governar? colocado por Platão e que a Esquerda actual ainda adopta.

Ou se é liberal, ou não se é liberal — como diria a Lili Caneças.

Nota
1. Karl Popper, “Conjecturas e Refutações”, 1981

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