domingo, 19 de janeiro de 2014

A Direita Revolucionária

 

Não há nada mais contraditório do que o conceito de “Direita Revolucionária”. Por definição, o movimento revolucionário é de esquerda, e, por isso, a chamada “Direita Revolucionária” também é de esquerda. A Direita Revolucionária é aquela que, tal como a esquerda, quer transformar o mundo e torná-lo num “Mundo Melhor”; e o que a distingue da direita Goldman Sachs é apenas uma pequena diferença em relação à noção de “Ordem”.

Alguma Direita Revolucionária, como o neoliberalismo, (a “direita Goldman Sachs”), acredita que a Ordem deve ser aristocrática. Vejamos o que diz G. K. Chesterton acerca da aristocracia como sistema político :

“Só existem dois tipos de governo: o despótico e o democrático. A aristocracia não é um governo: antes, é um motim; é o tipo de motim mais eficiente: o motim dos ricos.”

— G. K. Chesterton, “ What's Wrong With the World”


Outra Direita Revolucionária é a do tipo do PNR em Portugal, ou da Front Nationale em França, que é produto do embotamento espiritual do indivíduo e da sociedade, e de uma secularização radical que é característica da modernidade. Esta Direita Revolucionária, embora diga que “não”, defende um laicismo radical, tal qual o defende um qualquer partido de esquerda.

pnrPara esta Direita Revolucionária, a Ordem é despótica; mas têm que ser eles os déspotas: eles não aceitam que os déspotas sejam outros que não eles. Ou seja, esta Direita Revolucionária também defende um conceito de Ordem que é um motim: é o motim dos gnósticos que se consideram a si mesmos como uma “elite iluminada”. Esta Direita Revolucionária identifica-se com a esquerda radical de tipo Bloco de Esquerda ou Partido Comunista. A diferença principal é que uns são nacionalistas, e os outros são internacionalistas. Senão, vejamos este textículo:

“Não é por acaso que essa direita trauliteira, tão bem representada na figura do impostor Olavo de Carvalho, mais não faz do que dividir os brasileiros em facções e, quando este sentimento acaba por dar frutos, como no caso das recentes manifestações, nada mais tem a fazer do que pedir a todos que voltem para casa. Com uma direita dessas, que incita à revolta apesar de ser incapaz de oferecer uma alternativa, a melhor opção é seguir o conselho do seu mentor: fugir. Não por acaso, ele próprio fugiu para um local que considera seguro, de onde pode incitar o seu povo à revolta em segurança.”

Vejam bem a inversão revolucionária do sujeito-objecto: a “direita trauliteira” é aquela que, alegadamente, é representada por Olavo de Carvalho (!), por um lado; e, por outro lado, sendo ela alegadamente “trauliteira”, ela foge. Os trauliteiros fogem. Depreende-se que a Direita Revolucionária da Ordem Despótica não é trauliteira. Vamos ao dicionário ver o que significa “trauliteiro”:

Trauliteiro: designação dada aos indivíduos que em 19191 exerceram sevícias sobre os presos políticos; caceteiro; espancador.

Ou seja, o PNR não é “trauliteiro”.


“Para além desses factores, temos ainda que considerar os sinais e as profecias, e agora volto ao raio que recentemente atingiu a mão direita do Cristo.”

Numa tempestade atmosférica no RJ que produziu cerca de 40.000 raios (quarenta mil!), houve um raio que atingiu a mão direita da estátua do Cristo Redentor. Segundo a Teoria das Probabilidades, quanto mais raios existirem em uma tempestade do RJ, maior é a probabilidade de um deles cair na mão do Cristo Redentor. No caso do RJ, não se tratou da queda de um raio quase isolado, como aconteceu, por exemplo, no Vaticano aquando da posse de Francisco I. Quando nós confundimos o contingente, por um lado, e o necessário, por outro lado, metendo tudo no mesmo saco, qualquer manifestação da natureza passa a ser um sinal directo e fidedigno dos deuses.

Nota
1. (de 19 de Janeiro a 13 de Fevereiro de 1919, no consulado de José Relvas e sendo o presidente da república José de Canto e Castro)

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