Quando a Inglaterra de Thatcher enviou as suas Forças Armadas para resgatar umas ilhas minúsculas no Atlântico Sul ao largo da Argentina, não ouvi os Estados Unidos reclamar da protecção do Reino Unido em relação à população inglesa das Malvinas. Mas quando Putin pretende proteger a população russa da Crimeia, os Estados Unidos já fazem de conta que essa população russa não existe. Os Estados Unidos têm dois pesos e duas medidas, o que lhes retira qualquer autoridade moral.
A Crimeia só recentemente foi agregada à Ucrânia. A sua população é maioritariamente russa. Mas aquilo que não era um escândalo em relação às Malvinas (o envio de tropas inglesas), passou a ser um escândalo em relação à Crimeia.
Se a política for vista de uma forma maniqueísta, então não existe qualquer possibilidade de verdade em política. Parece que apenas e só os Estados Unidos têm o direito de intervir militarmente em outros países, e fora de um mandato da ONU: por exemplo, na Moldávia e na Ossétia, os Estados Unidos cagaram (falemos português!) para a ONU e intervieram sem mandato. Mas quando a Rússia alega pretender defender a população russa na Crimeia, os Estados Unidos ameaçam a Rússia com uma cagança inédita. Os Estados Unidos nem sequer colocam a possibilidade de um referendo na Crimeia, porque a democracia, para os Estados Unidos, depende dos seus interesses circunstanciais.
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