terça-feira, 6 de maio de 2014

Papa misto

 

Duas frases do cardeal Bergoglio:

“As certezas absolutas são o refúgio de quem tem medo.”

“Chega de fundamentalismo e de pensamento único, a verdade não existe sem diálogo.”



“Certeza absoluta” é uma redundância. A certeza é, por definição, absoluta. Não existe tal coisa como “certeza relativa”: ou se tem a certeza, e portanto esta é sempre absoluta, ou não se tem certeza, e portanto vive-se na dúvida. Portanto, a primeira frase só faria sentido se o cardeal Bergoglio dissesse: “As certezas são o refúgio de quem tem medo”.

Parece que o cardeal tem a certeza de que a certeza não existe; mas não deixa de ter uma “certeza absoluta”: a de que a certeza é incerta.

Ora, a fé é baseada na certeza; na religião, a dúvida serve apenas para alimentar a afirmação da certeza. O que pode diferir é o tipo de religião: as religiões não são todas iguais. E conforme é a religião, assim é o tipo de certeza — podemos estar certos de uma coisa segundo uma religião, ou de outra totalmente diferente e de acordo com outra religião.

A verdade não é “certeza da fé”, mas a fé é a “certeza da verdade”. A certeza da verdade é independente da opinião que possamos ter acerca dela; a verdade não depende do diálogo humano. A verdade não é construída pelo ser humano através do diálogo — a não ser que falemos da “verdade” efémera da ciência, a tal que hoje é verdade mas amanhã pode não ser: mas neste caso, mais valia o cardeal Bergoglio transformar o Vaticano em um laboratório científico; pelo menos teria mais uma certeza: a de que a verdade científica é incerta.

“O homem não é a medida de todas as coisas” — ao contrário do que parece pensar o “cardeal Protágoras”.

Não tenho a certeza, mas estou propenso a ter a certeza de que temos um papa misto: uma mistura de um burro com o anticristo.

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