Eu tenho muita dificuldade em compreender o discurso de João César das Neves. É possível que eu tenha uma qualquer deficiência cognitiva.
João César das Neves, que é professor universitário de economia, defende o défice público zero, alegadamente para garantir o crescimento da economia:
“temos de fazer estímulos de curto prazo e uma reestruturação brutal a médio/longo prazo que convença as pessoas de que estamos a olhar a sério para o défice e que queremos mesmo ter um défice (do Estado) que consigamos pagar, ou seja, zero”.
Segundo João César das Neves, não é 0,5% nem 1% de défice: é 0% de défice do Estado.
Défice zero significa que o Estado não gasta nem mais, nem menos, do que cobra em impostos aos cidadãos.
Isto significa que, segundo João César das Neves, o Estado deve diminuir impostos e deixar de investir em infra-estruturas públicas — porque se o défice é zero e os impostos baixam (como defende João César das Neves), Portugal é recambiado para o Burkina Faso (a não ser que se descubra petróleo no Chiado). O país ideal do João César das Neves é o Burkina Faso ou a Somália.
A Alemanha — que é o paradigma dos neoliberais — teve um défice público de 2,2% em 2009; 3,2 em 2010; 0,4% em 2011; e um superavit de 0,1% em 2012. Mas a economia alemã estagnou.
O Paraguai, por exemplo, não tem tido défices públicos — tem tido superávites — desde 2009, mas o PIB per capita é de 4.400 US Dollars, a economia daquele país tem decrescido e o desemprego tem aumentado. Portanto, qualquer relação directa ou linear entre o crescimento da economia, por um lado, e por outro lado o défice público, é simplismo.
Naturalmente que não é defensável um défice Público superior a 3%; mas isso não significa que o défice zero seja uma poção mágica para o crescimento da economia.
Portugal teve um défice público de 4% em 2011, e com a entrada da Troika (por causa do serviço de juros da dívida pública, ou melhor, por falta de dinheiro do Estado para pagar o serviço de juros da dívida pública) passou a ter um défice público de 7% em 2012.
Em Portugal, existe hoje uma ligação directa entre o défice público e a dívida pública que atingiu cerca de 134% do PIB — o que é uma dívida insustentável e não é pagável. O principal problema de Portugal já não é o défice público, mas a dívida pública.
Em qualquer economia de qualquer país do mundo, o principal problema não é o défice público: é sobretudo as elites que o país tem — o que significa saber o que fazer com o dinheiro que se pede emprestado. E Portugal tem elites de merda. E João César das Neves faz parte da elite.
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