sábado, 4 de outubro de 2014

O argumento da “crise de natalidade” para a “caminhada pela vida” de hoje

 

O argumento da “crise de natalidade”, que norteia a “caminhada pela vida” de hoje, é um argumento utilitarista.

O actual movimento pró-vida português (tal como acontece também em Espanha) já se movimenta nos “limites do possível” — o que significa que o valor da vida humana é relativizado pela Federação Portuguesa pela Vida. Utilizando este argumento — o da “crise de natalidade” —, poderia ser defensável o alargamento do prazo do aborto se existisse em Portugal um crescimento inusitado da população.

O utilitarismo assenta em uma contradição insanável, que consiste na defesa do egoísmo e calculismo exacerbados (proposição positiva), por um lado, e no conceito de “felicidade para o maior número” (proposição normativa), por outro lado. Ou seja, o utilitarismo pretende ter “sol na eira e chuva no nabal”; e “com papas e bolos se enganam os tolos” (os tolos são o povo). No meio desta contradição, os valores passam ao lado ou são mesmo colocados de parte.

Quando se utiliza o argumento da “crise da natalidade” para se defender a vida humana, a defesa da vida passa a ser um meio (para resolver um problema conjuntural) e não um fim em si mesma. Ora, a vida humana é um valor absoluto e não pode ser um meio para se atingir um qualquer fim utilitário. Como escreveu o poeta brasileiro Mário Quintana:

“O aborto não é, como dizem, simplesmente um assassinato. É um roubo… Nem pode haver roubo maior. Porque, ao malogrado nascituro, rouba-se-lhe este mundo, o céu, as estrelas, o universo, tudo. O aborto é o roubo infinito”.

O que me parece é que a defesa da vida humana em Portugal está a ser raptada pela política mais degradada e decadente — porque “o político democrático não faz nunca aquilo em que acredita, mas antes faz o que é mais eficaz” (Nicolás Gómez Dávila). Talvez a Isilda Pegado venha a ser candidata a deputada pelo Partido Social Democrata — e aí constataremos, mais uma vez, que Nicolás Gómez Dávila tinha razão.

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