quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Aqui há gato!

 

Galileu foi perseguido por defender o heliocentrismo. “¿Como foi possível isso acontecer? — perguntará o leitor. Alguns dirão que importa reflectir sobre o preconceito, ou seja, sobre o paradigma que levou a ciência do tempo de Galileu a preferir o sistema de Ptolomeu e a perseguir Galileu.

Mas ¿estaria Galileu correcto em tudo o que defendeu? Por exemplo, a teoria das marés de Galileu estava errada. E por isso não podemos afirmar o seguinte: “quem critica a teoria das marés de Galileu incorre em um preconceito contra ele”.

O facto de Galileu ter sido perseguido por causa da sua defesa do heliocentrismo não significa que a não-aceitação da sua (dele) teoria das marés faça parte dessa perseguição: estamos a falar de duas coisas diferentes: uma coisa é o heliocentrismo de Galileu, outra coisa é a sua teoria das marés.


Um tal Jorge Gato, que se dá por doutorado em psicologia, escreve o seguinte no jornal Púbico:

"Como foi possível isto acontecer?" Foi a interrogação incrédula que recentemente ouvi alguém fazer à saída do filme O Jogo da Imitação, sobre o génio matemático Alan Turing, perseguido na Inglaterra dos anos 50 por ser homossexual.

No dia em que mais uma vez se discute no Parlamento português a parentalidade exercida por casais do mesmo sexo, importa reflectir um pouco sobre o preconceito, nomeadamente aquele que tem caracterizado alguma argumentação contra as famílias formadas por lésbicas e gays.

¿O que é que tem a ver a perseguição em relação a Alan Turing por ser invertido, por um lado, com a adopção de crianças por pares de invertidos, por outro  lado?

Será que a perseguição de Alan Turing por ser homossexual legitima qualquer revindicação de putativos “direitos” da comunidade gay?

O argumento é falacioso e non sequitur — não se segue que, porque Alan Turing foi perseguido por ser homossexual, que seja legítimo que pares de homossexuais tenham direito a tolher a linhagem natural de uma qualquer criança e possam substituir um pai e uma mãe. Portanto, aqui há gato!

Depois, o gato doutorado invoca, mais uma vez, os “estudos” behaviouristas que indicam “semelhanças” — os “estudos” dizem que é “igual”, não há diferenças  — entre a educação de uma criança por um par de homossexuais, por um lado, e por uma mulher e um homem (um casal), por outro  lado. Trata-se de cientismo e de behaviourismo.

Finalmente, o gato das botas altas tem a certeza do futuro — apesar da sua argumentação falaciosa — o que é característica de uma doença mental que dá pelo nome de mente revolucionária.

2 comentários:

  1. Acho que onde está geocentrismo deveria estar heliocentrismo.

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    1. Está certo. Trata-se de um lapsus calami. Não há muito tempo para escrever, e muito menos para rever os textos. Obrigado pela observação.

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