domingo, 16 de agosto de 2015

O feminismo exige uma mutação genética na espécie humana

 

O feminismo, ao colocar a ética e a metafísica sob o domínio e jugo da política, pretende a guerra entre os sexos, e não a paz.

Temos aqui o discurso ideológico feminista da Esquerda radical actual, através de Beatriz Gimeno. O feminismo, na sequência do marxismo cultural, tem a tendência de atribuir todas as especificidades das relações entre homem e mulher à cultura antropológica; trata-se de uma simplificação da realidade, tal como fazem todas as ideologias. Ou seja, assim como os marxistas clássicos (Leninistas) reduzem a realidade à economia e à luta de classes, os novos marxistas reduzem a realidade à cultura e à política. Daí a proposição de Beatriz Gimeno:

“Os homens matam (as mulheres) por uma determinada ideia política”.

Esta redução da realidade (das relações entre os dois sexos) à política e à cultura, é assustadora — mais ainda vinda de gente que aspira ao Poder político.

É certo que a política e a cultura antropológica tem um papel importante a desempenhar nas relações entre os sexos; é verdade que existem más e boas tradições. Por exemplo, a tradição do morgadio, que já não existe entre nós, prejudicou durante séculos tanto filhas como filhos em Portugal e na Europa; entre os maomedanos, a tradição da excisão feminina é eticamente condenável; e segundo o Alcorão, uma filha tem apenas direito a 1/3 da herança quando comparada com um filho que tem direito aos 2/3 da herança. Aqui falamos, de facto, de problemas culturais e políticos que podem ser corrigidos através do Direito Positivo.

Porém, a correcção de injustiças não justifica a criação de outras injustiças, porventura até maiores do que as anteriores. O que o feminismo exige é que o homem deixe de ser ontologicamente masculino, em nome de uma putativa igualdade entre o homem e a mulher — sendo que esta igualdade não é apenas de jure: reclama-se uma igualdade radical que tenha como bitola ou referência a natureza da mulher e, por isso, exige-se implícita- ou explicitamente a feminização do homem, ou pelo menos a anulação e a repressão do masculino. Recusa-se a ideia de que existem naturezas intrínsecas diferentes no homem e na mulher. O feminismo e a ideologia de género estão intimamente ligadas e alimentam a psicose política contemporânea.

¿Onde é que Beatriz Gimeno e quejandas se baseiam para tentar legitimar o feminismo? Resposta: no problema ético das relações entre os dois sexos. Mas a ética está a montante da política e da cultura antropológica.

Metafísica → ética → cultura → política → economia

A ética está na causa — ou é o fundamento — da política e da cultura. E a montante da ética está a metafísica. Mas, para Beatriz Gimeno e para as feministas em geral, a ética e a metafísica não contam: reduz-se a realidade toda à política. Seria como se analisássemos um rio sem reconhecer a existência da nascente do rio: observávamos apenas o seu caudal (doxa), em um determinado ponto do seu curso, e intencionalmente ignorássemos a nascente (a causa) e a foz (a consequência) (episteme). O discurso feminista não deixa de ser intrinsecamente feminino: pleno de emoção e com pouca lógica; e o mais grave é que não se deixa permear pela Razão.

A ética é constituída por valores que existem independentemente de qualquer utilidade. Mas, para a visão radical feminista, os valores têm que ser úteis (utilitarismo), ou seja, têm que ter um estrito sentido prático adequado a determinadas circunstâncias políticas.

Inverte-se o sentido da realidade: a política passa a determinar a ética, e não o contrário, como seria de esperar. E a própria metafísica é reduzida à política do Zeitgeist. É esta a doença incurável do nosso tempo.

É o próprio feminismo (o “mulismo”) que legitima o evidente aumento actual da violência homicida contra as mulheres — porque se os valores (como defende o feminismo) têm que ter uma qualquer utilidade prática específica, e por isso não existem em si mesmos independentemente do que é útil —, então segue-se que a violência sobre as mulheres, de certa maneira, acaba por se justificar por uma qualquer utilidade prática. O feminismo, ao colocar a ética e a metafísica sob o domínio e jugo da política, pretende a guerra entre os sexos, e não a paz.

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