terça-feira, 18 de agosto de 2015

Os modernos dizem que “a lógica evolui”

 

Temos aqui uma citação de um tal "filósofo" Richard Kearney sobre o problema do Mal. No fundo, trata-se de uma versão moderna e invertida da Teodiceia. O que faz o "filósofo"?

Primeiro cita Santo Agostinho, esquecendo-se que Santo Agostinho baseia-se em ideias de Jesus Cristo (S. Mateus 15, 18-20): é o que sai do homem que pode ser mau, e não o que entra nele. "Filósofo" moderno que se preze, não cita Jesus Cristo.

Logo a seguir o "filósofo" perverte o sentido dado por Santo Agostinho às ideias de Jesus Cristo: diz ele (implicitamente): “se o mal vem de dentro do homem, e se há muitos homens, então segue-se que não existe um Mal universal”. O raciocínio é non sequitur. E depois justifica a negação do Mal universal através de S. Tomás de Aquino:

“E existirá uma noção universal de Mal? Não, disse Kearney, mas é preciso explicar este "não". Para São Tomás de Aquino pode dar-se o caso de as pessoas que cometem o Mal pensarem que estão a fazer Bem. Com base em Espinoza, precisou que isso não decorre da opinião, decorre sim da interpretação: o Mal humano é o que está sujeito a um conflito de interpretação”.

Há aqui uma perversão ou uma distorção das ideias de S. Tomás de Aquino que caracteriza a filosofia moderna. Vejamos o que S. Tomás de Aquino quer dizer:

Se a lei eterna se apresenta ao homem pela voz da consciência, toda a prescrição da consciência humana obriga a vontade (do homem) a conformar-se-lhe. Acontece que as consciências (humanas) não são todas idênticas. Não é, pois, o acto (do homem) em si mesmo, mas antes é a percepção (a interpretação) que a razão do homem dá, que qualifica a sua vontade: se a consciência apresenta esse acto como um mal — ainda que o acto seja um bem — a vontade adere-lhe como um mal.

Até aqui, estamos todos entendidos. Prossigamos o raciocínio de S. Tomás de Aquino que se complica um pouco mais:

Em função do papel da consciência na percepção (interpretação) da razão, diz o Santo que é mister ao homem obedecer sempre à sua consciência, mesmo que errónea (mesmo que a interpretação esteja errada): a vontade que se inclina para um objecto que ele (o homem) percebe como um mal é uma vontade má — ainda que a sua percepção / interpretação seja defeituosa e o objecto seja bom em si mesmo —, porque a vontade desvia-se da consciência: “toda a vontade que se afasta da razão, seja ela recta ou errónea, é sempre má” (Suma Teológica, I-II, 19,5).

Mas, ao contrário do que foi proposto pelo "filósofo" moderno supracitado, S. Tomás de Aquino não sacraliza o arbitrário subjectivo!

O que S. Tomás de Aquino constata é que um acto apenas é moral se se conforma com os ditâmes da consciência. O acto cometido por uma consciência errónea continua a ser mau em si mesmo, e distinto daquele que obrigaria uma consciência informada. E obedecer à consciência nada retira à falta prévia de o homem em causa não ter informado a sua consciência — se apenas podemos obedecer à nossa natureza pessoal, temos o dever de a substituir por uma melhor sempre que possível.

Em suma:

  • um acto é moral apenas e só quando o homem obedece à sua consciência;
  • é melhor obedecer à consciência, mesmo que estejamos errados, do que não lhe obedecer;
  • o facto de se obedecer à consciência não significa que o acto seja bom ou mau: a bondade ou maldade do acto depende da capacidade de informarmos a nossa consciência.

O ensino escolar deve ser um contributo para que as crianças informem as suas consciências o melhor possível.

A ideia segundo a qual “os valores foram inventados pelo homem e evoluem” é tão estúpida que pode ser até acariciada pela Helena Damião. Com jeitinho, a Helena Damião e o "filósofo" moderno dirão que “os números primos foram invenção humana” e a que “a lógica evolui”. Esta gente não tem emenda.

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