Lembro-me de uma frase de um homem do povo, serôdio no corpo mas não no espírito: “Deus é mau! Com a idade, tira-nos o tesão mas não nos tira a ideia”. Ou seja, não é preciso ser escritor para se pensar como o António Lobo Antunes.
O Rerum Natura publica aqui um comentário à seguinte interrogação existencial de António Lobo Antunes:
“Eu me pergunto se um homem que nunca fodeu pode ser um bom escritor.” → António Lobo Antunes
Convém, contudo, rectificar o seguinte acerca do texto do Rerum Natura: Leonardo Da Vinci era homossexual, e rezam os escaninhos da História que viveu, de cama e mesa, com um jovem imberbe — o que nos leva à necessidade de saber o que significa “foder”: vem do verbo latino 'fodio’, que significa “furar”, “penetrar”, sendo que “fodere” é o infinitivo do dito verbo. Ou seja, certamente que Leonardo ou fodeu ou foi fodido.
Hoje, coloca-se o problema invertido:
“Eu me pergunto se um homem que nunca foi fodido pode ser um bom escritor.”
O escritor Mário Cláudio corroboraria eventualmente esta última tese, que difere substancialmente da de António Lobo Antunes. O problema existencial da literatura portuguesa contemporânea é o de saber se o verdadeiro escritor fode ou é fodido.
Discordo que seja um problema de “ciência” (no sentido positivista), mas antes trata-se de um problema metafísico: a metafísica de alcova; estaremos em presença de um empirismo puro que defende a tese segundo a qual “quem não fodeu não sabe escrever”; a experiência da foda perpassa necessariamente a vida do literato — como é o caso de Nietzsche que viu frustrado um ménage à trois com a Lou Andreas-Salomé e o amigo Paul Rée, para além de ter passado a vida a foder a sua própria irmã.
Segundo a tese metafísica de António Lobo Antunes, a condição da experiência humana é a foda; “eu fôdo, logo existo” — é o moto. E, com o passar dos anos, tendemos a dizer que “Deus é mau...”
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