« Doutor Pacheco Pereira, ouvi-o há pouco na Quadratura do Círculo em choque com a linguagem vernacular usada para descrever a sacrossanta esquerda, área conhecida pelo rol de intelectuais com eloquência para arrasar com os calceteiros da direita, essa cambada de incultos para com as bondades virginais das soluções que a esquerda una tem para o nosso santo país. Estou solidário com esta denúncia e gostaria de expressar que a culpa é de quem lançou o “manso é a tua tia” para a discussão parlamentar: desde então tem sido esta desgraça. Uma pessoa vai ao talho e ouve coisas terríveis sobre a mãe do António Costa, coitada; ouvem-se até coisas sobre si, doutor Pacheco Pereira, mas não tantas como sobre o doutor Costa, admito, para mágoa de ambos.
Sinceramente, eu metia-os a todos no Campo Pequeno, que era para aprenderem a escrever nos blogues de acordo com o códice de Abrantes: porque desde Abrantes ninguém escreve como dantes.»
Eu já não vejo o programa Quadratura do Círculo, porque com a chegada do Jorge Coelho aquilo parece um monólogo de um surdo. Deviam colocar os discursos do Jorge Coelho nas celas solitárias das prisões.
Mas, por aquilo que conheço do José Pacheco Pereira, acredito que ele esteja “em choque com a linguagem vernacular usada pela direita para descrever a sacrossanta esquerda” — até porque o vernáculo, alegadamente, não faz parte da língua portuguesa: por isso é que ele não o utiliza, porque ele tem à Esquerda quem o faça por ele.
O princípio que orienta o José Pacheco Pereira é o da tolerância repressiva segundo o marxista Herbert Marcuse: “tudo o que vem da Esquerda é bom (incluindo a linguagem vernacular); e tudo o que vem da Direita é mau (mesmo que não seja vernáculo)”.
A tolerância em relação à Esquerda desculpa tudo, até a violência dita “revolucionária” (“coitadinho do crucudilú!”), e a intolerância em relação à Direita assenta na oposição violenta em relação às instituições da civilização e à oposição ao socialismo.
A liberdade de expressão (segundo o conceito de tolerância repressiva) não é coisa boa porque permite a propagação do erro — Marcuse e o José Pacheco Pereira têm o monopólio da verdade; e acreditam que o "telos" da tolerância é a verdade (deles): a minoria revolucionária (os Pneumáticos modernos) é dona da verdade, e a maioria (os Hílicos modernos) tem que ser libertada do erro e reeducados na senda da verdade pelos novos Pneumáticos. A minoria revolucionária tem o direito natural de reprimir as opiniões rivais que causam danos.
Quando o José Pacheco Pereira não tem razão, não discute as ideias: prefere sublinhar a “linguagem vernacular” dos novos Hílicos que têm que ser reeducados na senda da verdade.
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