sábado, 26 de dezembro de 2015

Ateísmo: “o ser humano evolui-se a si mesmo”

 

O Domingos Faria escreveu aqui um artigo de que podemos resumidamente retirar duas conclusões:

1/ para se poder negar um conceito, esse conceito tem que existir previamente; para se poder negar o Ser, o Ser tem que existir.
2/ qualquer negação da Metafísica é uma forma de metafísica.

Estes dois pontos são logicamente indiscutíveis; só um estúpido os colocaria em causa.

Convém, no entanto, sublinhar o facto de Deus não “existir” da mesma forma que existe o Domingos Faria, porque o Ser de Deus não existe no espaço-tempo. Em verdade, será mais correcto dizer que “Deus É”, em vez de dizer que “Deus existe”. 1

É evidente que o ateísmo (seja o que for o que isso signifique) é uma crença metafísica — porque qualquer negação da Metafísica é uma forma de metafísica — como bem demonstrou o Domingos Faria.


O Ludwig Krippahl vem a terreiro bradar contra a lógica. Aliás, uma das características dos chamados “ateus” é uma certa tendência para a negação da lógica e uma certa animosidade em relação à matemática, dando preferência às chamadas “ciências naturais” (o evolucionismo combinado com o monismo).

Ludwig Krippahl começa o seu discurso com um sofisma: mistura o “naturalismo”, por um lado, com “ateísmo”, por outro lado. Por exemplo, Espinoza foi um naturalista (“Deus sive Natura”) mas não foi propriamente um ateísta (o panteísmo é uma forma de naturalismo). Lamarck era um católico praticante. O próprio Darwin nunca se deu como ateu, mas antes como agnóstico. O Budismo é, de certa forma, naturalista. Portanto, não devemos confundir naturalismo e ateísmo.

A seguir, o Ludwig Krippahl desvia o foco da matéria, dado pelo Domingos Faria, através de uma narrativa que remete até para uma comparação entre um papagaio e o ser humano. Mas a conclusão da narrativa do Ludwig Krippahl vai de encontro à tese do Domingos Faria: “o ser humano tem uma capacidade cognitiva fiável para formar crenças verdadeiras”; e por isso é que o ateísmo é contraditório nos seus próprios termos.

Por exemplo, até há bem pouco tempo, nenhum ateu admitiria como crença verdadeira o conceito de "função de onda quântica"; e muito menos aceitaria o facto de a onda quântica não ser propriamente matéria, porque não tem massa. Hoje, qualquer pessoa que não admita o conceito de "função de onda quântica", não é só ateu: é burro!

A maior crença falsa e irracional que pode existir é a do ateu, porque acreditando na lei da causalidade, acredita contudo que não há uma causa para o universo. E, neste sentido, todas as religiões ou teorias filosóficas que defendem uma causa para o universo, são racionais.

Finalmente, uma citação do Ludwig Krippahl :

“Finalmente, o Domingos ignora o trabalho que se faz em ciência para ultrapassar as limitações das nossas capacidades naturais. A evolução não nos dotou de mecanismos fiáveis para detectar bandas de absorção nos espectros de estrelas ou modelar reacções enzimáticas. Nós é que construímos, passo a passo e peça a peça, instrumentos de medição, métodos, sistemas de representação quantitativa e imensas outras coisas para colmatar as lacunas que a biologia deixou”.

Este trecho é extraordinário porque concebe que existe uma evolução humana sui generis dentro da própria evolução geral: ou seja, “o Homem evolui-se a si mesmo”; o Homem é capaz de determinar a sua própria evolução — o que coloca em causa, por exemplo, o teorema de Gödel. Mas admito que, para o Ludwig Krippahl, contrariar o teorema de Gödel faça parte da genialidade dele.


Nota
1. “Eu Sou Aquele que Sou” – Êxodo, 3 – 14

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