Eu já não compro novos livros publicados em Portugal; porque são escritos segundo o aborto ortográfico e eu não sou masoquista, e porque, em geral, a qualidade do que se escreve hoje é baixa. A julgar pela amostra do novo livro “Nós, os Pais”, escrita pelo Henrique Raposo:
“(...) não percebo aquelas pessoas que dizem que sentem logo empatia com os filhos acabados de nascer; não entendo a conversa sobre o encaixe perfeito logo no primeiro segundo, do amor imediato por aquelas criaturinhas, do choro comovido no parto (…)
¿O que move um ser humano — que não é religioso!; e que não espera nenhuma vida eterna —, por exemplo, a irromper em uma casa em chamas, a fim de salvar uma criança desconhecida que chora?
Em 1982 correu pelo mundo uma história que incomoda não só qualquer sociobiólogo, como um qualquer colaborador do blogue Rerum Natura.
Arland Williams, um homem na casa dos 40, revisor de um Banco em Washington, ia a caminho de casa em um fim de tarde; e no momento em que chegou à ponte que atravessa o rio Potomac na rua 14, ele ouviu, de repente, o barulho ensurdecedor de um grande avião que passou por cima da ponte e caiu no rio gelado, projectando destroços e corpos humanos.
Das 84 pessoas a bordo do voo da Air Florida, 79 morreram imediatamente. Mas a tripulação de um helicóptero de salvamento, que chegou pouco tempo depois, viu três mulheres e dois homens agarrados a um destroço de flutuava na água, e, muito perto deles, um outro homem que procurava manter-se à tona da água : este agarrou a corda que o helicóptero fez descer e deu-a à mulher que estava a seu lado. Quando o helicóptero regressou, voltou a dar a corda a outro homem; esta cena repetiu-se tantas vezes até que apenas restava salvar este homem que nadava; mas quando o helicóptero regressou, Arland Williams tinha desaparecido na água gelada.
¿O que levou o bancário Arland Williams a saltar para a água gelada e ajudar as vítimas da queda do avião? Ele tinha-se divorciado já há algum tempo, mas estava novamente noivo e iria casar-se em breve. ¿O que é que Arland Williams ganhou em saltar para a água?
Este tipo de comportamento extremo — do tipo de Arland Williams — não é raro. Nos Estados Unidos existe um ramo da psicologia que investiga os fenómenos de altruísmo. Podemos definir o altruísmo da seguinte forma:
O altruísmo é um comportamento em prol dos outros, associado a sacrifícios próprios, realizado sem expectativa de uma recompensa proveniente de fontes externas, ou, pelo menos, não realizado, em primeiro lugar, por causa de uma tal expectativa.
O conhecido psicólogo Morton Hunt, ateu inveterado, escreveu: “Até agora, é simplesmente desconhecido o que leva heróis impulsivos a arriscarem a sua vida por pessoas estranhas; a investigação não oferece praticamente nada como resposta a esta questão”.
O que levou Arland Williams a saltar para o rio Potomac não foi algo de racional, não foi “um salto de confiança que se toma com os neurónios”, como diz o Henrique Raposo.
O sentimento normal de um pai em relação a um filho recém-nascido é da mesma índole do sentimento de Arland Williams que não pensou duas vezes antes de se atirar ao rio para salvar pessoas desconhecidas em situação objectiva e concreta de necessidade. É compaixão, que é uma forma superior de amor, o ágape: a existência (do ser humano, por exemplo, a do Henrique Raposo e da sua filha recém-nascida) antecede sempre a reflexão que ele possa fazer sobre ele próprio e sobre os outros, e a reflexão dele apenas consegue compreender características de um estado ou de uma situação já ultrapassados no tempo.
Don’t Expect The United Nations’ New Leader To Resolve The Syrian Refugee Crisis
ResponderEliminarhttp://thefederalist.com/2016/10/07/dont-expect-the-united-nations-new-leader-to-resolve-the-syrian-refugee-crisis/